terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Aforismo II

É muito raro encontrar, mesmo em nossa aleivosa sociedade, animal que tenha tamanha perfídia e seja tão interesseiro quanto uma criança.
Tadinho de Rosseau...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Minha Caneca Cheia

Se a ponta do lápis
Fosse menos percuciente
Se a minha justiça
Fosse menos leniente

Se eu não tivesse os ombros vergados
Pelo peso de três mundos
Nem na superfície eu tenho fôlego
Que dirá mergulhar no mais fundo

Se o meu passado fosse menos aterrador
E não fosse tão distante o que me permeia
Se o meu prazer fosse o meu labor
Se eu soubesse onde está minha caneca cheia

Se seu coração não tivesse ricocheteado minha intenção
E as pombas não houvessem se perdido no mar
Se a paz fosse uma obrigação
Se o meu navio tivesse onde ancorar

Se minha esperança não tivesse migrado
Para mares nunca dantes navegados
Se mil sinos não tivessem badalado meus ouvidos
Se só ao entrar em guerras fosse ferido

Se a morte tivesse uma explicação
Se não vazasse o que corre em minhas veias
Se o meu amor não houvesse singrado rumo à escuridão
Se eu soubesse onde está minha caneca cheia

Se existisse luz em alguma parte do dia
Se houvesse encontrado alguém que estivesse errado
Se não tivesse maldade no som de quem sorria
Se eu conhecesse alguém que não fosse encarcerado

Se a individualidade não fosse uma instituição
E o querer bem não trouxesse ingerência
Se o poder não fosse uma ilusão
Se houvesse alguém que não sofresse de carência

Se as regras não fossem flexíveis
E se soubessem que é santa toda ceia
Se as minhas verdades não fossem irredutíveis
Se eu soubesse onde está minha caneca cheia

Se cobras não tivessem picado
Todo e qualquer um de nós
Se admitisse que de tanta coisa sou culpado
Se nos lembrássemos que não estamos sós

Se meus grãos tivessem germinado
Se meus pães tivessem sido oferecidos
Se a chuva ácida tivesse acabado
Se meus tesouros fossem guarnecidos

Tanta coisa que poderia,
Luz branca que ainda não me incendeia
Mas sem tudo isso eu (perfeitamente) viveria
Se eu soubesse onde está minha caneca cheia

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

O Mar

A centímetros, polegadas, metros, pés, quilômetros, jardas, milhas, milhas náuticas de um ponto na terra qualquer, aqui estamos nós. Num ponto qualquer do mar.
O oceano é tão azul e de um azul tão profundo, que custa a acreditar. ¿Por que uma cor desta? ¿Esconde algo? Sempre me é claro, uma das filosofias mais básicas, daquelas mais arraigadas e sinceras, é um problema saber demais. Continua escondendo, então, mar, continua.
Engraçado, gostaria de saber o que ele leva, pra onde vai. Seguir o sabor das correntes. E, libertar-me de outras correntes.
¿Se eu jogasse uma garrafa pústula, aonde ela chegaria? ¿A quem nosso querido mar a entregaria? ¿Ou, o ingrato, devolveria nosso presente? Ou levaria para outros mares, outras ondas, outros destinos, outras fantasias...
Ou...
ou...
ou...
¿?
¿Deveria escrever algo na garrafa como o que? Suponho que há tempos deveria ser um poema, depois um endereço, hoje, continua sendo um endereço, ao menos. Eletrônico. Que também seja o msn, claro.
Não posso escrever nada. Não dá. Não consigo, não devo, não posso e não quero.
Ou, pra criar a exceção (seguindo a regra), eu escreveria se fosse um pedido de socorro.
¿Quando não precisamos de um?
Balança e não balança pouco. Quer me levar no seu ritmo, deixar-me estritamente com o seu sentido, sua direção, seu humor. ¿Quem não deseja fazê-lo? ¿Quem não queremos deixar no nosso ritmo?
Cada parte da superfície com seu movimento... uma balbúrdia e um descontrole. ¡Quanta precisão nisto!
Tão distante da terra e dos homens, dos seus afazeres, seus desesperos, suas metas, seus objetivos (se destruir), seus medos, suas vertigens, seus recalques, suas experiências, seus medos, suas diferenças, seus anseios, suas calamidades, suas exigências, suas velhas vanguardas, suas escrituras.
Distante da terra e distante do chão. ¿Quanto eu deveria mergulhar pra alcançar o que quero? Custa, mergulhar. Dói. (¿Até onde quero conhecer a mim?) Cada viagem, cada escrita, é uma pergunta e um mergulho em si mesmo. O fôlego que a gente toma, varia (¿Qual foi o de hoje?). Até onde a gente vai, não se sabe. Sabe-se só a extensão da profundidade. Depois de certo tempo mergulhando, a gente aprende. Vá, mas vá até certo ponto. Lateja, machuca. Você não quer ir. Você não precisa ir (¿ou não?). Corre-se o risco de não voltar o mesmo, voltar com seqüelas graves. E nem sempre é bom ser o mesmo e nem sempre é bom mudar.
Às vezes a gente pula de um lugar mais alto, por isso chegamos mais longe, digo, mais fundo. E pular é sempre uma temeridade E asas, asas eu nunca tive. Talvez seja melhor assim. Talvez.
As ondas seguem indo, num fluxo que não reconheço sendo o meu. E, pela milésima primeira vez, ¿qual fluxo reconheço sendo o meu? ¿O das pessoas? ¿Do serviço? ¿Dos estudos? ¿Da sociedade? Acho que o de algumas músicas. Olha, gente, ¡uma resposta! Finalmente. Algum dia teria de acontecer.


A noite vem chegando. Só vem pra tirar o azul. Pra mostrarmos quão sozinhos estamos. Pra evidenciar nossa pequenez desta imensidão. Pra clarificar nossa distância de tudo. Pra dar medo. Não precisa, mar, não precisa. Medo eu sempre tive. Sei que é importante tê-lo. Até certo ponto.

Eu voltarei aqui, mar e voltarei a ti. Agora não posso continuar. Preciso encontrar uma garrafa.


17/01/07 - P-43

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Propriedade

Se outros não escreverem neste blog, ele parecerá meu. Será só mais uma ilusão, ora pois. Tanta coisa parece nossa e está longe de sê-lo. Exemplo mais óbvio e tétrico: a nossa vontade.
"Católico apostólico soterrado no divã" diz o samba-rock de Lobão anos antes que criassem esta tal "inovação" musical.

O verso me vem e vem forte, vem cortando outros pensamentos, sem deixar espaço para mais nada. Eu, refletindo sobre a igreja... deveria faze-lo sempre, já que frequento-a insistentemente. Nada comum para um "jovem". Sempre e sempre acompanhado de muitos cãs. Não os daqui de casa, devo dize-lo. Elas não vão. Talvez devessem, penso eu.

Características da igreja? Dogmática, velha, peremptória, com suas contradições, suas virtudes, seus erros atuais e erros ainda mais graves no passado.
Engraçado. Estava descrevendo a igreja ou a mim?

Não é à tôa que frequento-a; me é mais claro agora.

A Negociação

Até onde me consta, sempre estou em negociação: O que meu corpo quer/ O que a sociedade pensa/ O que eu acho correto.

Os três vencem, os três perdem. Qual deles mais o faz, é uma dúvida precisa que gostaria de dirimir. Gostaria, mesmo.
Também não acharia ruim se um deles perdesse de larga monta. Não sei se é isto que acontece, porém. E não é só comigo, ao que parece.

Esta última frase, pseudo-justificativa, magoa, pois, acaba por me enquadrar, mais uma vez, num espectro da negociação que não me atrai. Bah.

Eu e a Lua

Por que teimar em ver somente um lado... eu não sou a lua.