domingo, 28 de dezembro de 2008

Quase dois aforismos

Não ingresso numa luta pela certeza da vitória, mas pela justiça da causa.
Não é pra me tornar um herói. É somente pra dormir em paz.

P.S: Esta ideia foi exposta no presente. Acredito que no pretérito, bem caberia como epitáfio.

O silêncio como resposta

Estava eu andando pela minha rua, passo por uma igreja minúscula, onde um pastor fala em um microfone. É claro, não cabe rezar, tem que gritar, tem que estrondar, tem que atordoar, tem que fazer com que o som chegue literalmente aos céus, como se Deus fosse surdo.

E, enquanto andava, ouvi as palavras do pastor, não exatamente estas, mas com este sentido:
- Esta noite, Deus me deu autoridade para estar aqui e promover a cura.
Tratava de doenças, pelo resto das palavras que captei.

E, perante a tamanha ignorância, de quem falava e especialmente, de quem escutava candidamente, eu não soube o que dizer.

Dúvida cruel

¿Onde o Vingador, do desenho Caverna do Dragão, perdeu um dos chifres?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ainda sem perdão

Bem, tenho de admitir. Os últimos três filmes que assisti com Leonardo Di Caprio foram muito bons: Os Infiltrados, Diamante de Sangue e Rede de Mentiras.

Entretanto, ele ainda não está perdoado por causa de Titanic.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pétalas ensanguentadas

¿Como se segue uma sina
Senão seguindo os cromossomos?
¿Como tudo sempre termina
Senão deplorando o que somos?

¿Faz sentido numa roda qualquer
Falar sobre o que bate tão fundo?
Haverá espaço para reclamar
Mas não é assim que se muda o mundo

Caem pétalas ensangüentadas
Fingimos que não vimos nada
As lágrimas secam nas cidades
Só voltando a marejar em avançada idade

A laboriosa luta de um povo
Pode ser singelamente desprezada
O descoco dos ignotos
Vampiros da massa explorada

Quando o rio não chega ao mar
O mar chega até o rio
Por mais que tenhamos sede
Sempre a desculpa do estio

¿Se estamos no cativeiro
Onde encontraremos harmonia?
¿Sobre caudaloso chuveiro?
¿Nos olhos de uma guria?

Inconclusas respostas
Sempre com um porém
Sabemos que cumprimos ordem
Sem saber de onde elas vêm

Mil e um alvos perto de você
Mil pessoas ao seu redor
Não há jogo sem um a perder
Não há cadeia que possa ser maior

Mesmo que nada temas
Há uma sombra te perseguindo
Cabe a nós nos livrarmos das algemas
E atacar quem sempre esteve rindo

Não da própria desgraça
Mas da miséria alheia
Vivendo em outro mundo
Sem ver que tudo em volta incendeia

Diariamente vão nos dizendo
Que é isto a que temos direito
Mas há algo que estão escondendo
Temem que façamos o que deve ser feito

Por mais que sentem sobre as cinzas de tantos
Supondo que sempre seremos otários
Não me basta só o olhar da guria
Só me saciará a vitória dos proletários

Aforismo XLIII

Quem nos dera que plutocracia fosse o regime de governo no qual o poder emana do cachorro do Mickey.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Doce engano

Eis que em alguma promoção qualquer, meses atrás, compro um livro que tem mais de três milhões de cópias, “O Guardião de Memórias”. Ressabiado com grandes números de vendas como referência, tentando me esquecer da leitura de “O Código Da Vinci”, acabo temendo pelo pior.

Como já foi dito, os livros de auto-ajuda resolvem todos os seus problemas enquanto você os está lendo, e nenhum quando você termina de ler. São mais ou menos o axé, o pagode, o funk da literatura. Não é à toa que vendem mais.

E quando abro o “Guardião”, pulula um folheto colorido de outras obras que fecham o ciclo do meu temor.
Não sei se sou capaz de demonstrar claramente o que quero dizer, talvez o título das obras também faça o leitor me compreender.

Peça e será atendido”, “Você é o líder da sua vida”, “O motorista e o milionário – uma história sobre as escolhas que nos levam ao sucesso ou ao fracasso”, “Fique mais jovem a cada ano”, “Abrace seus clientes”, “Desenvolva sua inteligência emocional”, “O sucesso é mais simples do que você pensa”, “O que aprendi com meu carteiro sobre o trabalho e a vida”, “Amigos de verdade” (na capa um cão e um gato), “O monge e o executivo – uma história sobre a essência da liderança”, “Transformando suor em ouro”, “O que toda mulher inteligente deve saber”, “Jesus, o maior psicólogo que já existiu”, “Os segredos da mente milionária”, “Como se tornar um líder servidor”, “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?”, “Como conquistar as pessoas”, “Desvendando os segredos da linguagem corporal”, “Dez leis para ser feliz”, “Seja líder de si mesmo”, “Jesus, o maior líder que já existiu”, “O poder da paciência”, “Por que os homens mentem e as mulheres choram?”, “Não leve a vida tão a sério”, “Enquanto o amor não vem”, “O poder do agora”, “As regras do trabalho”, “As cinco pessoas que você encontra no céu”, “A última grande lição – o sentido da vida”, “Como se tornar mais organizado e produtivo”, “Networking: desenvolva sua carreira criando bons relacionamentos”, alguns livros de Dan Brown (autor que, como já disse, tive o desprazer de ler) e muitos livros de Augusto Cury (autor que jamais terei o desprazer de ler).

Prestes a pedir uma sacola de vômito, escondo o encarte dentro do livro e começo a lê-lo com uma orelha atrás da pulga.
E para minha surpresa... a obra é muito boa! Com uma atmosfera ora tensa, ora triste (como parece ser moda).

Bem que eu queria ter doces enganos como este mais vezes.
Não é tão comum, infelizmente.

Aforismo XLII

¿O que é um keynesiano, senão um marxista covarde?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

As cobras

Os policiais militares continuamente se voltam contra o próprio povo do qual fazem parte.
Assemelham-se demasiado aos antigos capitães de mato que, apesar de negros, caçavam, maltratavam e humilhavam os da sua cor.

É como uma cobra que devora o próprio rabo.

Que sina.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Verdades mal explicadas

Gosto de teclar por aqui, uma das coisas que agrada é o fato de várias pessoas terem autonomia para escrever – a despeito de poucas efetivamente escreverem –, o que impede que o blog vire um diário.
Já uma coisa da qual não gosto é o título do blog. Não gosto simplesmente porque não cabe ao que escrevo.
Porém, mudar o título sem mudar o endereço é contraproducente, sair daqui também não quero... Enfim, estacionei na inconformidade.

Só criticar não basta, é claro, é preciso contribuir com sugestões.
Se eu tivesse construído o blog, poderia, para antagonizar o nome atual, escolher “Verdades mal explicadas”.

Sobre o pior

Muitas vezes leio, ou vejo, pessoas dizendo que George War Bush é o pior presidente da história dos Estados Unidos.
Com certeza seu governo é uma excrescência, mas quem afirma que é o pior, deveria procurar saber mais sobre Harry Truman, o pai da Guerra Fria, das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, e de tantas outras sandices.
Não dá nem pra comparar.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Placa de Petri

A melhor metáfora que posso conceber para a crise financeira atual é a da Placa de Petri.
Neste material, colônias de bactérias crescem exponencialmente até esgotarem o suprimento alimentar e literalmente afogarem-se em suas próprias excreções.

É o resumo cabal do que os especuladores globais estão vivendo.

Pergunta aos hermanos

A Argentina tem como novo treinador de sua seleção de futebol o inefável Diego Maradona. Pergunta que não quer calar: e se houver exame de doping para técnicos?

domingo, 26 de outubro de 2008

Da série constatações

Faço de tudo para que o mínimo possível de coisas me irrite, faz bem à própria saúde e também a dos outros.

Mas, claro, sempre há o que não deixa de incomodar.
E, uma destas coisas, é a tal expressão “forró pé-de-serra”. Ainda mais quando vem colado com uma suposta autenticidade: “o verdadeiro forró pé-de-serra”.

Que excrescência.

Pois bem, não poderia deixar de afirmar que, para mim, o “verdadeiro forró pé-de-serra”, e o “pseudo forró pé-de-serra” são uma bela bosta.

Idéias

I - A escrita deveria seguir como se fala. Tem som de “z”, escreve-se com “z”. Tem som de “x”, escreve-se com “x”. Extinga-se este aborto da natureza que é a cedilha. Já que nenhuma palavra começa com esta letra, poderíamos também determinar que nenhuma a tivesse no meio, tampouco no fim. Extinga-se “ch” com som de “x” (“cachorro”), “s” com som de “z” (“mesa”), etc. Ah, não tenho muita convicção a respeito das palavras com som de “s”. Por exemplo, “osso”. Mas, acho que bastaria apenas um s, mesmo.

II – Acabar com prescrição de penas. Ora, se um meliante cometeu um crime, por que o tempo que permaneceu fora da cadeia pode contar como atenuante? Não seria o tempo que passasse dentro da cadeia que deveria contar? Ao contrário, na medida em que um meliante não presta contas à sociedade, ou foge, ou utiliza os mais de mil e um recursos que as leis permitem para atrasar processos, sua dívida para com a sociedade aumenta, e não diminui! Desta maneira, proponho o fim da prescrição em qualquer caso.

III – Para completar a idéia anterior, acredito que a cada recurso protelatório (eu sei que é um pleonasmo, todo recurso calha de ser protelatório) deveria se aumentar a pena em algum percentual. Imagino que no mínimo 10%.
Por quê? Ora, se uma pessoa ingressa com recursos, e eles vão sendo gradativamente negados pela justiça, ao fim do processo, a justiça terá muito mais convicção, muito mais base nos fatos para decretar uma pena maior do que até então daria.
Afora o fato de se somar à idéia número 2 e, ser um impeditivo para que os intermináveis recursos sejam impetrados.
E, esta idéia valeria como um todo. 10 anos de cadeia, ingressou com um recurso, vai pra 11 se for condenado. Entrou com outro recurso, vai a 12,1 anos. Mais um, vai a 13, 3 anos. Se for uma briga por recursos financeiros, a mesma coisa. Pagaria 10 mil reais, ingressou com um recurso, vai a 11.... e assim sucessivamente.

IV – Jogos de futebol devem ter tempo contado como os de futsal, em que o tempo pára quando o jogo é paralisado. Em média, um tempo tem cerca de 30 minutos de bola rolando. Então, que se fixe este valor. Aí, nenhum time ficaria catimbando, enrolando ao máximo quando algum placar o favorece, o que tira muito do prazer e da justiça de certas partidas.

V – As prorrogações dos jogos de futebol seriam extintas. 90 minutos de jogo (afora os acréscimos) é muito tempo. Mesmo reduzindo aos 60 de bola rolando, conforme idéia anterior, ainda assim seria muito tempo. O que tinha pra ter acontecido num jogo tão grande, já aconteceu. Vamos aos pênaltis, que são sempre emocionantes.

VI – As contribuições previdenciárias das empresas deveriam considerar seu faturamento, e não só a quantidade de funcionários que lá trabalham. Isto oneraria menos quem emprega. Se não dá pra subsidiar todos, que se subsidiem os que empregam mais proletários.

VII – Deveriam ser equitativamente repartidos os dividendos entre os acionistas (ou donos de empresas) e entre os trabalhadores que efetivamente geraram este lucro quando as empresas tivessem um lucro líquido que superasse determinado valor. Imagino que 1 milhão de reais. Sobre os dividendos pagos aos empregados, seria um mesmo valor para todos.

VIII – Voltar-se-ia à CPMF (imposto dos ricos), se possível com alíquota maior, talvez 0,5%, e se daria o mesmo desconto no Imposto de Renda (que deveria afetar os ricos, mas não o faz). Seriam retiradas as possibilidades de deduções do IR. Com o aumento de arrecadação obtido com o fim das deduções, novamente se daria desconto para todos os que pagam IR.

IX – Voltar-se-ia a cobrar IR dos ESPECULADORES estrangeiros que compram títulos do governo e NÃO PAGAM IR. Esta foi uma das piores (senão a pior) decisões do governo Lula. É evidente, por ser terrível, foi diligentemente aplaudida por todos os grandes jornais. Quem tomou a decisão de não cobrar IR dos especuladores (¡tadinho deles!) foi o Ministro Palocci – um ministro de direita, como é sabido.

X – Para se jogar futebol na seleção brasileira, os jogadores deveriam permanecer jogando cá por estas plagas.
Ora, a seleção de um país se compõe de pessoas que representam toda a população. E quem se sente representado pelos nababos que ganham milhões, se rodeiam de loiras e puxa-sacos, se perdem com tanto dinheiro, distanciam-se totalmente do nosso povo e da nossa gente, vivendo uma vida totalmente diferente da nossa situação, cheia de luxos desnecessários, frivolidades e eventualmente um ou outro travesti mostrando a verdadeira faceta dos “donos da bola”, quem pode se sentir representado por estes?

Os jogadores deveriam permanecer no Brasil, para saber como estamos. Em ficando aqui, mais pessoas do nosso próprio país se interessariam por futebol (já que o nível do jogo melhoraria), mais pessoas de outros países se interessariam pelo futebol de clubes que é praticado aqui (aumentando a fonte de renda dos clubes com a transmissão a vários países, por exemplo) e, por fim, a própria seleção melhoraria seu futebol, afinal, os jogadores tenderiam a eventualmente se esbarrar, eventualmente jogar no mesmo time, melhorando o tal entrosamento que tanto serve de justificativa para o desempenho nem tão brilhante da seleção. E não como é hoje, uns vivem no Brasil (reservas, é claro), uns na Itália, outros na Espanha, outros na Inglaterra, etc.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quem me dera

No dia que antecede uma viagem de ônibus noturna, costumo intencionalmente dormir mal, com vistas a chegar cansado para a viagem e adormecer mais facilmente. O problema é que nem sempre dá certo, às vezes fico extremamente cansado e não consigo apagar.
Tenho severas dificuldades com o sono, desde que era criança. O único período da vida em que não tive insônia foi numa época lôbrega em que dormia cerca de 5 horas por dia. Neste período tive insônia poucas vezes.
Mas não era disto que eu queria falar.

Depois de dormir mal, poucas horas, mal acomodado, sem ninguém ao lado (o que, convenhamos, num ônibus é até melhor), estou na rodoviária de Macaé, este recanto maravilhoso do planeta Terra.
Com sono, dor de cabeça e mal-humorado, procuro um banco onde ninguém durma – uma das muitas proezas do petróleo é a desigualdade social, Nigéria, Venezuela e outros países do Oriente Médio estão aí de prova – e, se possível, onde não haja nenhum fumante.
Mas não era das proezas de Macaé ou do petróleo que eu queria falar.

Sensabor como estava, abri a bolsa e fui ler, o que normalmente não gosto de fazer quando estou neste estado decrépito.
Eu estava com um Saramago na bolsa, “As pequenas memórias”.
Acredito que o momento em que estamos mais aptos para ouvirmos música seja na adolescência, onde se consolidam muitas coisas na vida (os nossos melhores amigos, por exemplo) e, creio que seja ali que escolhemos as bandas que serão as nossas favoritas para o resto de nossos dias.
Mesmo que nosso gosto musical venha a mudar, nunca gostaremos tanto quanto gostamos das músicas que ouvimos de quando éramos os nem tão inocentes adolescentes.
Mas não era disto que eu queria falar.

Com relação à literatura, já não tenho tal convicção. A leitura é algo mais complexo, e, não creio que haja alguma cronologia lógica em que estejamos mais ou menos acessíveis para o sabor dos livros.
Há, sim, momentos em nossas vidas em que estamos mais ou menos aptos, mas isto por problemas nossos, e não por estar em determinada fase da vida, como na adolescência.
Mas não era disto que eu queria falar.

Eu queria falar que, não estando em fase da vida mais ou menos apta a literatura, posso afirmar com isenção: quem me dera algum dia ter a visão, a inteligência e a sabedoria de uma pessoa como José de Souza Saramago.
Feliz é o mundo que possui uma pessoa como esta.

Nem tão bom para o mundo é o fato de pessoas como Saramago (ou G.G Márquez, por exemplo) estarem já se despedindo, dado o avançar da idade.
Não faz (tanto) mal. O que escreveram é eterno.
E, se Deus quiser, ainda nos encontraremos em outra dimensão, a despeito da (des)crença do mestre português.
A sua generosidade é tanta, que tenho certeza que o Pai Celestial os receberá de braços abertos. Até porque, o céu ficaria menos bonito sem o seu altruísmo, sua inteligência e a sua lucidez.

Aforismo XL

Acho realmente uma boiolice este negócio de “tenho que ir fazer o número dois”. Pois eu, digo aos quatro ventos: ¡Eu vou é cagar!



P.S: A boiolice nada tem a ver com o homossexualismo.

Aforismo XXXIX

UM DOS muitos problemas de ser chefe, é que você tem um poder muito maior para prejudicar do que para beneficiar seus subordinados.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Assassino em massa

Às vezes observo as discussões acerca da utilização de células tronco, e suas implicações sobre sua utilização, tendo em vista que os cientistas argumentam que não o fazem com seres vivos (mesmo não havendo consenso quanto ao momento exato do início da vida, grande parte dos cientistas acredita que o marco inicial da vida ocorre depois dos primeiros 14 dias de nascimento, pois é quando começa a formação do nosso sistema nervoso. Chegou-se a esta conclusão pelo sentido inverso, pois uma pessoa só é considerada morta quando o seu cérebro pára de funcionar).
Já outras pessoas acreditam que o início da vida, seja de quando da concepção, no momento da entrada do espermatozóide no óvulo.
Porém, às vezes vejo algumas partes deste debate, inflamados pelo radicalismo religioso, defenderem agressivamente que o início da vida é tão próximo do fim do ato sexual, mas tão próximo, que reflito que falta pouco para estes me chamarem de assassino por bater e ter batido minhas punhetas.

Pra evitar chororô

Dada a infinita misericórdia divina, pode-se inferir que o Senhor criará paraísos conforme cada povo julga que ele o é. Criará o Paraíso com as virgens para os muçulmanos, o nosso Paraíso, os Elíseos dos gregos, o Nirvana dos budistas, a Iluminação dos espíritas, o Valhalla dos vikings, etc., para que todos pensem que estavam certos e os outros, errados – a glória para muitos dos religiosos fervorosos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Dele nascido, para ele direcionado

Vento sul assola o Espírito Santo, garoa, pego um ônibus para o terminal Dom Bosco. No terminal sento ao lado de uma mãe e um filho – este com cerca de seis anos. A criança brinca com a mãe, interage com o ambiente, mesmo sentada no banco. A mãe, inversamente proporcional a alegria e aos gestos até mesmo bastante contidos do garoto, o esmurra, o agride e grita com ele o tempo todo, como se o mesmo estivesse fazendo muita bagunça.
Estávamos sentados no mesmo banco, e aquela cena me incomodava muito. O ônibus demorava bastante, e a mãe continuava a esmurrar o garoto. Para meu espanto, a criança não chorava, tampouco se deprimia com os gestos desatinados da mãe. Ao contrário. O garoto continuava com uma alegria incontida, se divertindo, chamando a mãe para brincar, como se ela realmente não estivesse fazendo nada. Fiquei pensando, naquela cena, nos longos minutos que escorriam. Pensei, que em algum momento, mesmo àquela imensa alegria, àquele imenso prazer em brincar, iria se esmorecer. E, em algum momento, àquela criança, já cansada de apanhar, iria – mesmo sem saber – querer vingança. Não seria contra a mãe. Seria contra a sociedade como um todo. Sociedade que não deu a ela direitos, só deveres, que não deu amor, que não deu carinho, que não deu compreensão. Ao contrário. Só punição e rancor.
E eu pensei, que àquele garoto, com toda aquela alegria, que só queria brincar, quando grande, ainda viraria um pária. Viraria um bandido qualquer, um assaltante qualquer, um assassino qualquer. E, por conseguinte, vão querer a cabeça dele. Vão querer prisão perpétua. Vão querer pena de morte. E eu pensei, que ele era apenas um dado rolando no meio do destino, com muito menos poder de interferência na própria vida do que parece, pois, àqueles murros que lhe eram dados em tão pequena idade, vão marcar pra sempre, estarão no subconsciente daquele garoto, não haverá nada que os tire de lá.
Que destino, pensei. É a cadeia, é a morte, e havia tanta alegria, obstinada alegria.
Estava sinceramente magoado com a mãe, muito, mesmo, e tentava não olhar para a cena que ocorria ao meu lado. De qualquer forma, seus berros ensandecidos perscrutavam a todo o momento os mais recônditos cantos dos meus ouvidos e sair dali seria deliberadamente fugir – coisa que não me apetece em todos os casos, comumente só em um ou outro relacionamento.
Tentei olhar para ela sério, para tentar desanimá-la do que fazia. Foi quando encarei de verdade seu rosto. É engraçado, a gente vai passando pelas pessoas, tantas pessoas, e na verdade não vê nenhuma. Foi quando me dei conta de que a mãe era muito nova. Devia ter uns 20, 21 anos. E eu, que tentava aplacar minha raiva contra ela, me dei conta de que ela deve ter sido mãe com uns 14 ou 15 anos. E pensei como deveria ter sido o pai dela, se é que ela o conheceu. E, percebi como era fácil sentir misericórdia do garotinho que pode virar bandido, já que ele é tão pequeno e indefeso, mas é difícil sentir daquela que, se talvez não se tornou meliante, também não conseguiu montar uma família, não conseguiu prover o seu filho dos cuidados e do amor que ele merecia. Não passava amor para frente, talvez porque também não o houvesse recebido. Era bastante fácil culpá-la, como será bastante fácil culpar o futuro bandido, ou futuro bêbado ou futuro pai irresponsável que está sendo criado ali.

E eu, pensei sobre ter filhos, esta coisa louca, tanta responsabilidade, tantos traumas e coisas mal resolvidas em nós que passamos adiante, para eles, que sequer tem forças para suportar tal peso.
Como não pretendo ter filhos, me aliviei com a sensação de que não passaria minhas coisas ruins adiante. Morrerão comigo.

O ônibus demorou tanto, que percebi que era inútil tentar ir a aula de inglês que almejava, perderia mais da metade da aula, mudei de fila para pegar o ônibus de volta. Eram tantas as filas e tão longas, que entrei na grande serpente errada. Nesta, observei um rapaz em fila próxima, de cabelo raspado, tinha um corte formato de desenho em parte do cabelo mais ou menos deste jeito: l/l/l/l/l/, que circundava todo o seu crânio. E ele, de repente, se virou para trás, e ofereceu alguns pacotes de amendoim para os que estavam atrás dele. Normalmente um real compra alguns pacotes, ele pegou um pra ele e oferecia os outros para estranhos.
E, ali, naquela garoa fria e naquele vento forte, no meio de uma fila enorme, no meio de tantos traumas e alegrias, no meio do egoísmo e da dor, também havia altruísmo, sem nenhum compromisso, apenas o de proporcionar a alegria a um desconhecido. Ali, naquele momento, no meio da rua, no meio do povo, eu me senti em casa. Ali, naquele lugar, eu estava onde deveria estar.
Quando consegui ingressar no ônibus de volta, ao meu lado um rapaz lia um livro: “O maior vendedor do mundo”. Era um livro que eu, que tanto gosto de ler, jamais gostaria de ler. Mas ele lia, com o ônibus em movimento, não sei o que queria vender, talvez a si próprio num emprego qualquer. Estava correndo atrás, se preparando para não sei o que. Achei forte, também.
Entram duas mulheres, uma mais velha e outra nova. Dentre outros assuntos, a mais velha agradece a bondade divina pelo fato do ônibus ter parado fora do ponto para pegá-las – sem pensar em responsabilizar Deus por não terem um carro, ou por estar chovendo no momento em que estavam fora de casa. Eu logo pensei que o motorista parara por causa da chuva, e não dos desígnios celestiais. Mas ela seguiu com seu raciocínio, falou sobre o coração do motorista, em contraponto a outros, que tinham tal órgão petrificado.
E eu pensei novamente no garoto, futura estátua, de quem cobrarão coisas como se ele tivesse tido tudo, como se ele fosse um igual, quando não é, como se ele tivesse tido chances, quando não teve, como se ele fosse um culpado, quando na verdade é vítima desde já.


E, me dei conta mais uma vez, diante do garoto sem futuro, da jovem mãe, das senhoras que agradecem ao Pai Celestial por um ônibus que parou fora do ponto, pelo rapaz que tentava agradar os outros com amendoim, do rapaz que tentava ser um bom vendedor, que é para eles, e tão somente para eles, que nossas maiores ações, que nossos maiores esforços devem ser empreendidos. É por causa dessa gente, por essa tão brava gente, tão espoliada, tão sofrida, e que ainda assim consegue ser altruísta e alegre, que sou socialista. Vivo com certo conforto, não carecia pensar nisto. Mas não posso esquecer deles, do povo, esta palavra tão mal usada, dita tantas vezes com escárnio justamente por aqueles que se locupletam dele, por aqueles que sentem desprezo em estar junto a eles, que se supõem diferentes, distantes, dignos de outro país, outro ambiente, outra temperatura, até.
É por causa deste povo, sofrido e amuado, por amá-los, que, a cada dia mais convictamente, me sinto socialista. É trabalhando e ajudando este povo, que se faz a obra de Deus, é nosso dever, é nossa obrigação. Sinceramente, sendo o homem que me tornei, nem sinto opção em não ser socialista. Assim como apenas nasci homem, apenas nasci brasileiro, apenas nasci socialista. Apenas sou.
Eu não sei se minha ideologia está correta, e postulo a necessidade de se debater as antinomias da mesma. Porém, em qualquer decisão que seja tomada, de qualquer regime, de qualquer governo, ou até mesmo nas nossas decisões habituais, quando temos poder para interferir nas coisas, devemos pensar muito, muito refletidamente, no bem destes desvalidos. Porque eles precisam. E, nem mesmo eles, têm consciência do tanto que são explorados.
Para mim, pra ser sincero, é até bem fácil, pois no meio deles, sinto que estou dentre os meus.


P.S: Lá fora, debatem ajuda de mais de três trilhões de dólares (!) aos especuladores (¡coitadinhos!).
Para os que inspiraram este texto, não restam nem as migalhas.

Aforismo XXXVIII

¿Por que ver toda mudança como uma ameaça?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aforismo XXXVII

Um dos meios para reconhecermos quando envelhecemos, é a partir do momento em que passamos a procurar uma aliança nas mãos das belas desconhecidas que encontramos nos acasos da vida.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Aforismo XXXVI

Se José Serra fosse eleito presidente – o que nunca acontecerá – Elio Gaspari, funcionário da globo e notório serrista que é, seria seu ministro das comunicações.

Aforismo XXXV

A expressão “capitalismo selvagem” é um pleonasmo.

domingo, 20 de julho de 2008

Aforismo alheio

Fragilizados emocionalmente, depois de tanta coisa ter acontecido, estávamos em um táxi, em idas e vindas ao hospital para tratar a puã do nosso amigo Tojeiro, e eis que o meu amigo Aurélio Delfino solta a frase:
- "Você é as dificuldades que você já passou".

Gostei pra caramba.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Descreio

Eu ainda não acredito que assisti à Indiana Jones IV.
Às vezes eu penso que vou para o inferno.

P.S: Para completar o desastre, falta agora eu assistir Rambo. Prometo que desta vez, não me deixarei levar.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Aforismo XXXII

Ninguém é responsável por nada.

Aforismo XXXI

Fracassado é o mestre que não faz com seu discípulo seja melhor que si mesmo.

Aforismo XXX

¿Se comer bem é uma arte, cagar bem seria o que? ¿Arte barroca?

Aforismo XXIX

Sinceramente, Ivete Sangalo me cansa.

Aforismo XXVIII

¿Seria o casamento uma prostituição a longo prazo?

Aforismo XXVII

Para se conquistar uma mulher, pode-se fazer de tudo. Exceto tratá-la bem.

Aforismo XXVI

A existência de um neoliberal no governo é similar a de um papa no Vaticano que não acredita em Deus.

domingo, 30 de março de 2008

Eis que havia o prelúdio

Eis que havia o prelúdio.
Tudo seria bonito, belo, risonho, deve ter sonhado alguém. Eu ao menos espero que sim. Ele viria a trazer a esperança, a alegria e a consolidação daquilo que Nietzsche disse que era o fim para as mulheres.
A despeito de tudo ter começado em choro, era momento de alegria. Mas se chorei, foi porque me fizeram chorar. Explicação das mais banais. ¿Quando não mais o seria? Senão, seria algo como um ser humano assumir a própria culpa. Coisa de depressivos, obviamente. Estes são responsáveis por tudo, segundo os próprios pensamentos até mesmo pelo próprio choro (¡coisa estapafúrdia, imaginem!). Não, não escarneço deles. Meus comprimidos de Pondera que o digam. Reminiscências de outros tempos, hoje estão no fundo da gaveta. Tá bom, na época também estavam, mas por outros motivos, menos nobres.

Imagina-se que uma viagem pode ser interessante, mostrar-nos novos caminhos, novos horizontes, momentos inesquecíveis. E na mais incrível de todas... tudo obliterado, sem cicatriz, sem resquício. O nada. Muito demorou até que se retivesse alguma coisa que ficasse até hoje. ¿Por que? ¿Não seria a natureza injusta neste ponto? ¿Por que a grande mãe decidiu assim? ¿Que merda de mãe é esta? Alguém já bem disse que o amor é descendente, e não ascendente. Coisa sinistra. Não vou me perder nesta esquina. Deixa pra outro momento, hoje não quero me debater em assuntos em que sei que não terminarei bem perante mim mesmo. Único momento em que o alter ego diz que eu realmente me importo. Coitado do alter ego. Mas algum dia eu chegarei lá, é um objetivo de vida. Assim como o maior objetivo de todos: aprender a respirar.

¿Será que depois do fim teremos oportunidade de (¿re?)vermos o início? Engraçado, nunca vi ninguém comentar sobre isto. Assunto oportuno, talvez mais que inferno, dossiês e as novas putas da TV.

Já li que eu durmo em determinada posição justamente por causa desta época, saudade de tempos idos, lugares mais quentes e aconchegantes. Muito doido.

Havia muco e havia sangue, havia humores viscosos e havia pus. Coisa sinistra, reitero eu.
Não poderia de uma alquimia tão grotesca dar grande coisa.

Eis que fora o prelúdio. Eis que eu nasci. Eis que aqui estou.


P.S.: ¿Por que será?

terça-feira, 25 de março de 2008

Ensaio Sobre a Tolerância

Muitos são os nobres conceitos que permeiam eventualmente mais, eventualmente menos, a nossa sociedade. Dentre eles, podemos citar: a temperança, a sinergia, a humildade, a educação, o respeito, a pureza, a solidariedade, a compaixão, a gratidão, a amizade, a esperança e, o mais intenso de todos, o amor. Porém, hoje devo falar sobre um dos conceitos mais dispersos e esquecidos desde muito: a tolerância.


O que é a tolerância?

Segundo a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura), a tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.


A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.


Tempos de matança

A UNESCO está alarmada pela “intensificação atual da intolerância, da violência, do terrorismo, da xenofobia, do nacionalismo agressivo, do racismo, do anti-semitismo, da exclusão, da marginalização e da discriminação contra minorias nacionais, étnicas, religiosas e lingüísticas, dos refugiados, dos trabalhadores migrantes, dos imigrantes e dos grupos vulneráveis da sociedade e também pelo aumento dos atos de violência e de intimidação cometidos contra pessoas que exercem sua liberdade de opinião e de expressão, todos comportamentos que ameaçam a consolidação da paz e da democracia no plano nacional e internacional e constituem obstáculos para o desenvolvimento”.

Parece ser evidenciada pelos fatos a intensificação da intolerância, conforme os dados do jornal estadunidense Washington Post que apresentamos a seguir:

Ø Do século I ao XV, 4 milhões de pessoas foram mortas em conflitos bélicos;

Ø No século XVI, 2 milhões;

Ø No século XVII, 6 milhões;

Ø No século XVIII, 7 milhões;

Ø No século XIX, 19 milhões;

Ø No século XX, 111 milhões (até agosto de 2000).

Poderíamos supor que a agressividade, ou mesmo a intolerância, aumentaram no período. Não coaduno com esta opinião.


Para se ter uma idéia, a população comum ia a eventos na idade média para verem animais, como ratos, serem queimados vivos, apenas por diversão.

A matança de seres humanos que nasciam deficientes foi extremamente comum em outros tempos. E é defendida até mesmo por grandes pensadores de outrora, como Platão.

Estes absurdos já não acontecem mais. Porém, hoje, ao se chegar a um dissenso, os meios que os homens encontram para resolver belicamente seus problemas potencializaram-se. Desta maneira, conflitos que antigamente terminariam com centenas, ou milhares de mortos, agora terminam com milhões. A briga que terminava em olho roxo termina num tiro e numa morte.

O Japão consolidou-se como país unificado depois da batalha de Sekigaharano, onde mais de 50 mil homens pereceram durante uma carnificina que durou seis infernais horas. Parece pouco nos dias de hoje, quando com um botão podemos exterminar os 6 bilhões de habitantes do planeta, mas considerando-se que nesta luta todos morreram pelo fio da espada, um homem matando um outro homem de cada vez, podemos imaginar a atrocidade de uma batalha como àquela e o grau de destruição que uma batalha similar, com as armas de hoje, acarretaria.

Julgo que estes sejam exemplos que a causa básica da intolerância talvez até tenha diminuído, porém, àqueles que efetivamente querem partir pro ataque, têm meios muito mais eficientes e, infelizmente, facilmente disponíveis.


As causas da agressividade humana ainda não são ao certo conhecidas. Na natureza, normalmente os animais agem agressivamente para: defender seu território, caçar e conseguir uma fêmea para copular. Afora estas três causas básicas, um líder de um grupo pode coagir violentamente seus subordinados para controlá-los e as fêmeas também agem muito agressivamente na defesa de seus filhotes. Mas, mesmo a agressividade presente em animais, em certo tempo é contida. Um lobo, ao brigar com outro e perceber que não tem chances, oferece seu pescoço. Um leopardo brinca na frente de seu similar. Estes gestos, de fraqueza e submissão, aplacam a ira do seu oponente, como acontece também com muitos outros animais na natureza. Porém, com os homens, como se sabe, a coisa não funciona a contento. Muitos são capazes de roubar, estuprar ou matar ouvindo súplicas sem se compadecerem minimamente com isto.

Provavelmente a grande causa que tenha impedido uma terceira guerra mundial, tenha sido o fato dos dois países (EUA e URSS) saberem que ambos tinham condições de destruir o mundo algumas vezes. A “Destruição Mútua Assegurada”, como era chamada a teoria que previa a aniquilação nuclear do mundo caso uma guerra entre as duas potências começassem, foi provavelmente o que impediu o começo de uma guerra. Há uma famosa frase de Einstein: “Eu não sei com que armas a Terceira Guerra Mundial acontecerá, mas a Quarta Guerra será lutada com paus e pedras.” Talvez não restem nem paus e pedras se a Rússia e os EUA entrarem em guerra.




¿Mas seria este o motivo correto para não se iniciar um conflito?

Com efeito, consideramos que a paz não é tão somente a ausência de guerra, tampouco se limita às relações internacionais guiadas pelos Estados.

A UNESCO considera que uma guerra é a ponta de um iceberg (como sabemos, um iceberg tem sua menor parte exposta, a maior parte de sua estrutura fica submersa, escondida de nossa visão).
Na verdade, a entidade considera que há toda uma cultura de violência, de respostas agressivas, de atitudes hostis, de intolerância no trato pessoal, de um cidadão comum com outro, que numa circunvolução, acaba gerando um redemoinho da discórdia, que vai subindo, permeando a atmosfera política, fazendo com que políticos que tenham uma ideologia agressiva sejam eleitos e, estes, ao chegarem ao poder, terão políticas que só conduzem à discórdia, à desagregação e à divergência. Não convém o armistício a estes, pois, eles dependem da guerra para sua sobrevivência eleitoral. Em nosso mundo atual temos peremptórios exemplos de políticos que dependem de terem inimigos para conseguirem sobreviver eleitoralmente, como George War Bush e Álvaro Uribe (presidentes dos EUA e da Colômbia). O senhor Bush já disse em entrevista “Eu sou o presidente da guerra” com um espantoso prazer em suas palavras.
É evidente que eles sempre dão a desculpa de que estão se armando apenas para apenas se defender. Porém, quem age assim, está se assemelhando ao agressor. Jean Paul Sartre (1905-1980), o famoso filósofo francês, já dizia que a violência sempre se faz passar por uma resposta à violência alheia. Ou seja, nunca somos culpados. A culpa sempre é do outro.

É muito fácil dissociarmos nossas responsabilidades deste tipo de conduta. Porém, ela começa com nós mesmos, no trato diário. ¿Quantos “George Bush” não existem no trânsito, por exemplo?

É fato que existem pessoas que, pela carga genética que receberam, acabam sendo mais agressivas que outras, mesmo tendo recebido a mesma educação e as mesmas influências culturais do ambiente em que vivem. Porém, a capacidade que possuímos de controlar nossas emoções, sejam elas boas ou más, é o que nos distingue dos animais selvagens e, permite que possamos viver em sociedade. Se não conseguimos controlar nossos impulsos, não estamos, tampouco estaremos, aptos para conviver com outros cidadãos.


A cultura da intolerância

A antropóloga estadunidense Margareth Mead (1901-1978), ao estudar três sociedades primitivas da África, verificou que em uma sociedade, ambos os sexos eram extremamente agressivos. Em outra, ambos os sexos eram extremamente dóceis. E na última, as mulheres é que extremamente agressivas. Ou seja, os padrões de agressividade são resultados de uma cultura.

Diferentes civilizações, em diferentes épocas, cultuam e/ou admitem mais ou menos a violência. Por exemplo: um certo cidadão negro, chamado Rolihlahla revoltou-se contra o racismo opressivo que imperava em seu país. Criou uma milícia para combater o governo, a despeito de vários companheiros não concordarem em reagir ao governo lutando tão agressivamente. Rolihlahla distribuiu armas e passou a combater ferozmente o status quo da época. Explodiu bombas, atirou em guardas, sabotou fábricas, incitou a violência contra a elite corrupta do seu país, espalhou o medo na população civil, enfim, agiu como muitos poderiam definir, como um terrorista. Rolihlahla acabou preso e condenado a prisão perpétua. Permaneceu encarcerado por 28 anos e, provavelmente você já ouviu falar dele, com outro nome, adotado depois de ter se batizado cristão: Nélson Mandela. Ganhador do prêmio Nobel da paz.

A violência que ele praticou, naquele contexto, não é considerada (para a opinião pública mundial) como terrorismo.

Um outro exemplo: um país que é uma ilha, declarou sua independência em 1902. Porém, em 1901, os EUA aprovaram na sua assembléia constituinte a Emenda Platt, onde se concedia o direito de intervir nos assuntos internos deste país (e também num outro, Porto Rico). Ou seja, negava à estes dois países a condição de países. Nada mais eram que protetorados dos EUA.


O protetorado era governado por um ditador extremamente corrupto, aliado da elite putrefata que esbanjava milhões enquanto a população padecia. Os já escassos recursos naturais da ilha (as lavouras mais férteis) estavam na mão de multinacionais dos EUA e estas pagavam salários de fome aos seus empregados. A maior parte da população era analfabeta, menos de 10% da população tinha leite para tomar no café da manhã.

Então, um grupo de guerrilheiros, depois de várias tentativas frustradas, desceram de Sierra Maestra, exaustos, sem alimentos suficientes, com menos homens e armas, e conseguiram derrubar o ditador fantoche dos EUA Fulgêncio Batista (1901-1973). O comandante do levante era Fidel Castro Ruz. Ato contínuo, Fidel Castro declarou a independência de Cuba dos EUA e nacionalizou as lavouras das multinacionais. Ernesto Guevara (1928-1967) cuidou de levar ao “paredón” a elite corrupta que oprimia a população carente da ilha. Cuba na verdade era um bordel dos EUA. Uma ilha de cassinos e prostituição (inclusive infantil), onde o ditador-fantoche não só permitia este descalabro, como o incentivava.

Para muitos, Fidel Castro e Nélson Mandela foram heróis e a violência utilizada por eles e por seus companheiros, estritamente necessária. Para os aliados dos EUA, para os mafiosos de Miami, para os racistas, Fidel e Mandela foram tiranos e terroristas. Cada um, na cultura em que vive, considera as atitudes dos líderes de certa maneira. “A história me absolverá”, profetizou Fidel, num famosíssimo discurso que virou até um livro. Absolverá tanto a ele como a Rolihlahla na minha modesta opinião.

Tanto Fidel, quanto Mandela, podem ter sido classificados de terroristas pelos seus inimigos. Para mim, eles eram libertadores.

Com estes dois causos, demonstramos que a cultura interfere extremamente naquilo que consideramos violência. E, por conseguinte, esta cultura, volátil através dos tempos, interfere extremamente no conceito de tolerância da sociedade.

Evidenciamos que algumas causas de batalhas podem ser consideradas justas. Porém, existem outras motivações de lutas que, apesar de também terem sido levadas a cabo por uma suposta nobre causa, demonstram-se trágicas, como veremos a seguir.


Religião X Tolerância

¿As religiões causaram mais bem ou mal a sociedade? Na verdade, basicamente todas as religiões são fundamentalistas (talvez excetuando o budismo, que mais parece um conjunto de posturas que uma religião). Por exemplo:

Ø “Ninguém vem ao pai, senão por mim”. (
Jesus Cristo)

Ø “Tu és Pedro: sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”
(Jesus Cristo)

Ø "Não julgueis que vim trazer a paz a terra.Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa.(Mt 10,34-36)...
(Jesus Cristo)

Ø E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma' (Lc 22,36). (...) Pois 'Eu vim lançar fogo a terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?' (Lc 12,49)". (
Jesus Cristo)

Ø “E eles apenas diziam, Senhor, perdoe nossos pecados e excessos, dê-nos um espírito resoluto e conceda-nos a vitória sobre os infiéis”. (
Alcorão)

Ø “Golpeie-os na cabeça, e em todas as suas extremidades”. (Alcorão)


Estas são frases fortes, que se, avaliadas fora de todo um contexto, podem levar a interpretações terríveis. Quem avalia estas frases, também não deve se esquecer de outras, pois no Alcorão não há nenhuma promessa de paraíso para aqueles que usam a violência. Ao contrário, quem mata um homem inocente age como se estivesse matando toda a humanidade. O Alcorão somente admite o uso da violência como legítima defesa, e, ainda assim, na mesma proporção do agressor, nunca provocando mais violência.

E quando Jesus foi capturado, Pedro sacou sua espada e decepou a orelha do soldado Malco. Jesus imediatamente restaurou a orelha ao soldado e ordenou a Pedro: “volte a sua espada ao seu lugar, pois aquele que vive pela espada, morrerá pela espada”.

A excessiva certeza de algo, acaba gerando, mesmo que por uma causa boa, um fanatismo. ¿Como avaliamos a “santa” inquisição, ou Osama Bin Laden? Como fanáticos, como assassinos. Porém, o que muitas vezes nos esquecemos é que, no pensamento deles, eles estavam lutando por Deus. No pensamento deles, eles lutavam pelo que há de mais nobre.
E, muitos religiosos que criticam a inquisição, são tão fanáticos e intolerantes quanto estes, só não dispõem do mesmo poder que a inquisição possuiu.














Osama Bin Laden e a “Santa” Inquisição


O poder do diálogo

Na medida em que se é tolerante, os diálogos podem ser muito mais enriquecedores e a nossa própria vida fica mais fácil. Por exemplo, quando debatemos algo com alguém, podemos nos fechar e dizer que temos a resposta correta. Porém, podemos ser tolerantes e compreendermos que, mesmo que nós sejamos ricos em experiências e conhecimentos, nós não podemos perceber e entender tudo. Nós até podemos logo pensar (e não expressar) que o outro é desinformado e ignorante. Mas também podemos conceber que o outro com quem debato também tem as suas experiências e, pode ter visto coisas que podem me auxiliar na minha compreensão. Eu posso numa discussão tentar apenas fazer com que o outro veja as coisas a minha maneira. Ou posso aproveitar para absorver novos conhecimentos que me enriquecerão em muito. As escolhas estão em nossas mãos.

Uma discussão visa fechar questões, convencer. Um diálogo visa abrir questões, visa mostrar opiniões (e não respostas). Uma discussão visa demarcar posições, defender idéias. Um diálogo visa estabelecer relações, compartilhar idéias. Uma discussão visa persuadir e ensinar. Um diálogo visa questionar e aprender.

Não é uma boa estratégia, tentarmos suprimir os dissensos, tentar evitar diálogos sobre temas espinhosos, como futebol, política e religião. Ora, sempre haverá discordância. Não adianta calá-las, elas permanecerão e, por ficarem se avolumando no seu eu interior, podem aflorar de maneira trágica. O que devemos, é termos diálogos produtivos, sem agressividade, onde possamos mostrar nossas idéias, ouvir outras, sem que para tanto nos sintamos ofendidos. Devemos respeitar as diferenças e diversidade, tentando ao máximo suspender os nossos pré-conceitos, nossas crenças, para que possamos ouvir bem. Não convém buscar “estar certo”, ou “sair vencedor” num diálogo. Se é este o objetivo, ¡um diálogo de verdade sequer ocorreu!

Mérito

Também não podemos esquecer. Tolerar um erro de uma pessoa que a gente gosta, normalmente correta e certinha, que uma vez na vida lhe tratou mal, ou que uma vez na vida lhe dirigiu uma palavra áspera, ou que uma vez na vida lhe decepcionou, é bem fácil. Não há mérito nenhum nisto. Difícil é tolerar o erro de desconhecidos ou o erro repetido. E onde há dificuldade, há mérito.


Dialética

Siga os grandes filósofos e viva a dialética: estabeleça uma idéia, tenha você mesmo o interesse de discordar desta idéia. Depois de por e contrapor, sintetize o que há de melhor em seu pensamento.














Em todas as posições que defendemos, encontraremos pontos falhos. Por exemplo: eu sou eleitor do presidente Lula e convicto de que o presidente faz um governo muito bom. Porém, é-me conveniente, até por integridade ideológica, tentar buscar os problemas do governo, as coisas que me desagradam. E, desagradam-me as taxas de juros e o câmbio sobrevalorizado. Desagrada-me a presença de alguns ministros, como Geddel Vieira Lima (¿o “Agatunado” para cuidar de uma pasta que tem tantas obras?), Edson Lobão (uma nulidade histórica de uma oligarquia histórica), Nélson Jobim (o ministro tucano), Hélio Costa (ministro da globo), etc. Eu poderia falar por horas bem do governo e do presidente, mas convém também esforçar-me por criticá-los. Ao fim das críticas, ¿ainda mantenho a minha opinião? ¿Foram argumentos fortes o suficiente para mudar minha idéia? Se não foram, de qualquer modo ajudaram-me a ver as coisas de uma maneira mais ampla e correta.

Posso também exprobrar as idéias deste próprio artigo. Por exemplo, eu julguei justas as lutas de Fidel Castro e Nélson Mandela. E injustas as lutas da inquisição e de Osama Bin Laden. Ora, ¿mas não é a cultura de tolerância que tentamos propor? ¿Como posso, ao propor a tolerância, admitir lutas que infligiram tantas mortes como justas?
¿Isto não seria uma antinomia?

Então, ¿é justa a luta de Mandela e Fidel? ¿É correto defendê-las num ensaio sobre tolerância? Ora, eu respondo que, a violência, em casos extremos, até pode ser necessária. Em situações drásticas, medidas extremas podem ser requeridas. Como já foi dito, não se salta um abismo com dois pulinhos. Porém, na minha opinião, estas atitudes extremas não devem ser utilizadas na nossa vida diária.


É o meu contra-argumento, falível, pode estar certo ou errado. Eu acredito que esteja certo, daí minha postura. Mas, eu tenho de ter na mente que sempre poderei estar errado. Sempre devo tentar buscar erros naquilo que defendo.
É o dever de um pensador.


Tolerância requer prática

Alguns psicólogos dividem em três tipos as formas como as pessoas sentem as coisas.



Onde:






O objetivo da cultura da tolerância é aumentar o quadrante amarelo, pois, dificilmente nós passaremos a gostar de uma coisa da qual já não gostamos. É evidente que se a parte verde do gráfico aumentar, quanto melhor. Aumentar nossa tolerância com àquilo que a gente odeia não é tarefa fácil, mas é muito mais fácil que passar a gostar de algo que não gostamos.


Eu, por exemplo, na minha adolescência detestava canções de axé, funk, pagode, etc. Estas músicas me incomodavam e, muitas vezes eu saí do lugar em que eu estava porque músicas como estas tocavam perto de mim. Hoje, eu prossigo não gostando, porém, quando toca este tipo de música próximo a mim, eu simplesmente não me importo. Continuo não gostando, mas tolero. Consegui, ao longo do tempo, mitigar a raiva que eu sentia das músicas, até um estado onde elas já não me abalam mais.

A minha postura intolerante na adolescência não é fato incomum. Ao contrário. Posso afirmar por experiência própria que a idade nos tranqüiliza e a falta de tranqüilidade e tolerância na adolescência nos faz verdadeiros tiranos. Por sorte, sem grandes poderes para realizar nossos intentos.

Não é a toa que tribos rivais da África utilizem crianças como pontas-de-lança na guerra. A ausência de sentimentos de culpa e responsabilidade fazem delas assassinos mortais. Na adolescência, possivelmente o período mais rico da vida de um ser, as pessoas construirão a noção plena da gravidade dos seus atos. Fato que repercutirá pelo resto de sua vida.

Da minha batalha particular (e ainda incompleta, até a morte incompleta), onde consegui robustecer a cultura da tolerância, posso garantir: só fez bem a mim e aos que me rodeiam.

Um outro fato que podemos observar com este gráfico é a zona de conforto. A zona verde é uma zona de conforto.

Toda vez que vivenciamos um fato novo, somos submetidos a pressão, somos cobrados, nós saímos da zona de conforto. E, muitas vezes, as nossas respostas que damos aos outros, também não estão na zona verde. Por exemplo, ¿qual é a resposta que àquele que deseja brigar espera do provocado? Que ele brigue, ¡é claro! Então, ¿como podemos tirar o agressor da zona de conforto, como podemos contrariá-lo? Não brigando, ¡é claro!

Como já dizia Adoniram Barbosa (1910-1982), “bom de briga é aquele que cai fora”.

Se nós brigarmos, nós estaremos sendo guiados pelo agressor, estaremos fazendo exatamente o que ele quer.

¿Que inteligência há nisto?

E assim é para toda a vida. Quando alguém nos provoca, o que quer é que fiquemos chateados. Quando não ficamos, aí sim nós estamos no controle e, o provocador está fora da sua zona de conforto.


Tolerância X Ignorância

Desta maneira, não só podemos, como devemos tentar fazer com que a nossa cultura, seja uma cultura de paz. E, chega-se à paz, com tolerância.


A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos”. (Mohandas K. Gandhi - 1869-1948)

O aforismo de Gandhi, um dos poucos líderes a lutar pela independência de seu país através da paz - o que não impediu que ele morresse assassinado (“Existem várias causas pelas quais eu estou pronto para morrer, mas não há nenhuma causa para qual estou preparado para matar”, já havia profetizado o líder indiano) – representa bem o ponto onde queremos chegar.

A tolerância permite enxergar melhor, evitar erros crassos, harmonizar diferenças, permitir que haja dissensos.

Temos muitas opiniões. Porém, é de bom feitio ouvir, refletir, tentar compreender.

Muitas belas palavras já foram ditas sobre a tolerância. Já dizia Shakespeare (1564-1616) que, com a mesma severidade com que julgamos, um dia seremos condenados. Portanto, devemos tentar evitar julgar os outros, quanto mais sem ouvir a pessoa. Devemos dar as pessoas ao menos o benefício da dúvida, porque elas podem ter agido por motivos justos, desconhecidos para nós e, se nós mesmos estivéssemos passando por uma situação semelhante, poderíamos ter agido ainda pior do que julgamos que elas tenham agido.

Pois bem. Em outro texto eu havia escrito:
Os fatos são tão encadeados...
E os desdobramentos destas atitudes são eternos...

Cada atitude, cada posicionamento, cada resposta, cada procedimento, é como uma pedra jogada no meio de um lago. E, as ondas que elas formam, vão para o infinito”.

E é assim que acredito. Se nós agimos com correção, paciência, tranqüilidade, isto repercute na sociedade.
João trata bem José, que ajuda Joana, que salva Maria, que apóia Marisa, que se enternece por João.
Ou, João destrata José, que desconta em Joana, que manda Maria ir àquele lugar, que chama Marisa pra porrada, que pergunta à João o que é que ele está olhando.

Cabe a nós escolher um dos dois caminhos. Quem constrói a nossa cultura somos nós.



Alguns documentos internacionais de referência e consultados:

. A Carta da Terra;

. A UNESCO e a Cultura de Paz;
. Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou tratamentos Cruéis, desumanos ou degradantes;

. Convenção de 1951 sobre os Estatutos dos Refugiados, seu Protocolo de 1967 e seus instrumentos regionais;
. Convenção e Recomendação da UNESCO sobre a Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino;
. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial;
. Convenção sobre a Prevenção e a Sanção do Crime de Genocídio;
. Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;
. Convenção sobre os Direitos da Criança;
. Convenções de Genebra;
. Declaração da UNESCO sobre a Raça e preconceitos raciais;
. Declaração de Copenhague e o Programa de Ação aprovados pela Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social;
. Declaração de Princípios sobre a Tolerância;
. Declaração de Sevilha sobre a Violência;
. Declaração do Parlamento das Religiões sobre uma Ética Global;
. Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz;. Declaração e o Programa de Ação de Viena aprovado pela Conferência Mundial dos Direitos do Homem;
. Declaração sobre a Diversidade Cultural; . Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de Intolerância e Discriminação fundadas na religião ou na convicção;
. Declaração sobre a Paz na Mente dos Homens;
. Declaração sobre as Medidas para eliminar o Terrorismo Internacional;
. Declaração sobre os Direitos das Pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e lingüísticas;
. Pacto internacional dos direitos civis e políticos;
. Pacto internacional dos direitos Econômicos, Sociais e Culturais;
. Programa do Século XXI sobre a Paz e a Justiça – Programa de Haia;
. Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

terça-feira, 4 de março de 2008

Aforismo XXV

Sabe, eu digo mil e um aforismos no cotidiano, especialmente para as namoradas de plantão.
Depois do meu início no blog, sempre prometo que vou postá-los aqui, mas às vezes, tanto pelo conteúdo agressivo de algumas frases , quanto por esquecer o axioma, mesmo, acabo deixando de fazê-lo.
Este que citarei agora é um destes, que ficou perdido pelo tempo, dito a dona Maria:

“Quem não transou, não leu cem anos de solidão e não tomou ovomaltine, não sabe o que é a vida”.

Daí haveria outros complementos, mas desta vez eu me eximirei.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Solidão


Eu poderia dizer que é terrível a solidão.

Eu poderia dizer que é terrível sair para o trabalho, retornar a noite e encontrar tudo em casa exatamente no mesmo lugar, sem uma única bendita alteração.
Eu poderia dizer que é terrível ver algo na TV e não poder conversar com alguém o tanto que discordo daquilo.
Eu poderia dizer que é terrível não haver ninguém para lhe lembrar que as panelas estão no fogo.
Eu poderia dizer que é terrível a ausência das perguntas, dos questionamentos, dos debates.

Eu poderia dizer que é terrível não haver ninguém lhe orientando a comer melhor (a alimentação de um solteiro é uma das coisas mais insanas da natureza).
Eu poderia dizer que é terrível ver um ótimo filme sozinho.
Eu poderia dizer que é terrível vir da rua com um comentário ótimo para fazer, chegar e não ter ninguém para contar.
Eu poderia dizer que é terrível ninguém reclamar da toalha jogada em cima da cama.
Eu poderia dizer que é terrível ser um copo cheio e não haver ninguém para bebê-lo. E ninguém para enchê-lo quando você está se sentindo vazio.

Eu poderia dizer que é terrível começar a questionar se minha cidade não deveria se chamar Macondo.
Eu poderia dizer que é terrível ter a televisão como fuga.
Eu poderia dizer que é terrível ir à noite à praia, o vento gelado lhe açoitar e ver-se absolutamente sozinho.


Eu poderia dizer que é terrível ser sempre você o escolhido para lavar as vasilhas.
Eu poderia dizer que é terrível ninguém reclamar da minha barba mal feita.
Eu poderia dizer que é terrível chegar o fim de semana, todos os seus amigos estarem ocupados com seus respectivos pares, você tem todo o tempo do mundo e nada para fazer.


Eu poderia dizer que é terrível perder a hora e ninguém te acordar dizendo que vais chegar tarde.
Eu poderia dizer que é terrível ter a nítida sensação de que estás mais lembrando do que vivenciando coisas.
Eu poderia dizer que é terrível olhar algo em qualquer lugar, lembrar de uma piada muito cômica e se calar, porque ninguém a ouvirá.
Eu poderia dizer que é terrível serem somente suas as idéias brilhantes e imbecis.


Eu poderia dizer que é terrível conversar sozinho, e isto é inevitável, pois a própria garganta se cansa de ficar sedentária.
Eu poderia dizer que é terrível encontrar um grande amigo que há tanto tempo não via, e depois de se despedirem, simplesmente ter que guardar pra si as incríveis histórias que vocês tinham vivido em outros tempos.
Eu poderia dizer que é terrível sentir que, caso aqueles pensamentos estranhos que eventualmente lhe ocorrem sobrepujassem as suas forças, seu corpo não seria encontrado antes de começar a feder. Ninguém daria por sua falta.



Eu poderia dizer que é terrível, mas não é. É macabro e inumano.

Eu poderia dizer que mais terrível, macabro e inumano é acostumar-se a isto.


Eu poderia dizer que mais terrível, macabro e inumano do que acostumar-se a isto, é sentir que assim estás melhor.
Ou, desse jeito, esteve melhor do que está hoje.

Talvez eu tenha que refletir.

Aforismo XXIV

Só acha caro quem não vende o produto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Estratrágico

Nos últimos anos, quase que inadvertidamente, acabei por adotar certa “estratégia”. Deixo de pedir dez coisas, para pedir apenas uma e, ser atendido.
Afinal, faz sentido que, sendo tão raros os meus pedidos, considerariam de maneira especial quando os fizesse.

Só posso dividir com vocês que é incrível a capacidade dos meus planos, deliberados, ou não, de darem errado.



Post Scriptum: tô abusando dos neologismos, né? Vou parar com isto.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Pinturas

Hoje tô postando só para indicar dois sites que contém belíssimas imagens, um estrangeiro (que se destaca, não dá pra omentir) e um tupiniquim. Lá vão:
http://www.setowski.com/engl/galeria_olejne_dawno.html e http://vileardi.blogspot.com/ .

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Feliz Agora

Hoje em dia muito se fala sobre a terceira idade ou a melhor idade. Sinceramente não vejo por que ela seria a melhor idade. Pois é um momento em nossas vidas de descompasso entre os desejos da alma (que necessariamente não envelhece), e as possibilidades de um corpo alquebrado pelo tempo. Devem existir algumas vantagens. Mas tirando os passes especiais nos meios de transporte, e a preferência nas filas de bancos, só me ocorrem duas. Uma delas ouvi da minha madrinha. Que afirma que os idosos tem a vantagem de poder falar o que quiserem. Por dois motivos: primeiro que ninguém os ouve mesmo, e segundo que mesmo ouvindo não se importam. Pois os comentários mais ácidos são tidos como sandices. A segunda vantagem descobri nas academias de ginástica, depois que fiz 40 anos. O que não chega a ser uma idade avançada, mas funciona como um alerta, pois de repente você percebe que metade da sua expectativa de vida já passou. Mas voltemos à academia. Me digam uma coisa, alguém gosta de abdominal? Existe exercício mais sacrificado e chato? Eu desconheço. Pois bem, depois dos 40 ninguém te força a fazer mais nenhum exercício. Inclusive abdominais. Os professores ficam apavorados achando que vamos ter um ataque cardíaco e fazem vista grossa.
Mas deixando de lado a filosofia de botequim. Sabe, sou uma pessoa que acredita piamente na evolução do espírito. Que estamos aqui para aprender uns com os outros. Aprender a nos conhecer melhor, a eliminar nossos defeitos e a exercitar nossas qualidades. E que para isso precisamos tomar consciência do que nos serve, do que nos faz felizes. E do que nos atrasa, faz sofrer, humilha, puxa pra baixo e destrói nossos sonhos. Para que não precisemos repetir, no fim da vida, o desabafo do grande Jorge Luis Borges, que disse:

“cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer. Não fui feliz”.

E por isso é preocupante ver as pessoas enaltecendo a “melhor idade”. Como uma época de nossas vidas onde teríamos tempo, dinheiro e menos responsabilidades. Sendo assim o momento ideal para viver. Como se a vida nos espera-se. Como se pudéssemos dizer ao tempo: “detêm-te, pois no momento minha agenda esta lotada”. Como se o dia-a-dia não fosse importante. Como se fosse natural viver sem prestar atenção no caminho até o trabalho, nos almoços de domingo, no abraço da pessoa amada, no primeiro balbuciar de um filho dizendo “Te amo”, pois teríamos um momento mais propício para aproveitar tudo isso. Só que o presente, essa entidade mágica onde se encontram passado e futuro, é a única coisa que temos. E precisa ser vivido intensamente, senão traz sérios riscos colaterais. Ou no dizer de Vergílio Ferreira:


“Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.”


Portanto meus amigos “carpe diem”. Deliciem-se com cada momento de suas vidas que de banal não tem nada, pois é único. Pensem nos conselhos de Don Herold, em Instantes:

“Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais
sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas
reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.”

E sejam felizes agora.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Poesia de reconciliação

Pássaro Mudo
Ó grande pássaro,
Tua beleza é esplendorosa,
Teu ser inebriante,
Tua paciência amorosa
Ó grande pássaro,
parceiro constante,
somente pela Tua natureza transcendental,
sobrevives às ofensas que cometo a cada instante
Ó pássaro mudo,
que, assim, a tudo assiste
perdoe-me a ignorância, o esquecimento,
e a maldade que em mim existe
perdoe-me o amor , que embotado resiste
Agora sei quem és Tu, ó pássaro gigante,
sei porque nunca me abandonas
e porque nunca anda em bandos
Agora sei porque me proteges e porque devo servir-Te.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Neo-talibanismo

¿Quem há de negar que os Estados Unidos estão transformando-se numa espécie de teocracia-conservadora-cristã?

¿Não serão eles os talibãs cristãos?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Aforismo XXIII

Se os homens não fossem insatisfeitos por natureza, ainda estaríamos nas cavernas.

Vidas partidas

O tilintar metálico do garfo preenche o ar. O hálito fresco da noite invade a casa e acaricia meu rosto. Mais um dia chega ao fim. E enquanto o sol agoniza no horizonte, meus olhos vagam pela casa vazia. Os móveis, a luz pálida da TV, o tic-tac do relógio, as formas contorcidas da comida, seu brilho gorduroso, seu gosto salgado. Salgado como teu suor... Ah!... Teu suor. Estrelas pontuando tua pele, que a luz morna do abajur revela, em meio às sombras dançarinas do ventilador de teto. A respiração pesada, os risos, o branco dos dentes, o brilho dos olhos... Nossos corpos se movimentam ritmados, como se fôssemos um único ser. Um animal desvairado, um corcel andaluz, que sôfrego busca o horizonte infinito. Sinto tuas unhas em minha carne. E minha boca tem sede da tua. Te bebo então. Desces por minha garganta doce e morna como um conhaque. Teu calor, teu gosto se espalham por minhas veias, enquanto sinto meu corpo se contrair num derradeiro espasmo. Que percorre meus músculos, vísceras e entranhas. A visão me foge por um instante, enquanto te abraço. Ao voltar revela teu rosto, que amanhece em luz, em cor e prazer. Doce menina num corpo de mulher. Porém, “de repente, não mais que de repente” o toque ríspido do telefone me arranca dos laços da imaginação. Meus olhos estão úmidos, o peito apertado mau consegue respirar. Estou de volta a sala de jantar, ao noticiário da TV à comida gelada no prato. Você já não esta aqui. Tudo foi muito rápido. Como a explosão de uma supernova, enchendo de luz a vastidão sideral. Muito foi dito, no entanto, muito mais ficou por dizer... Por viver.... Parece que te conhecia desde sempre, desde o nascimento do universo. Talvez isso explique essa imensa saudade de tudo que não vivemos.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Reação em cadeia


Eu gosto de ler. ¿Por que?
Sempre me orientaram a fazer prova para ingressar na escola técnica (então CEFET-ES, quando ingressei), que é federal, bom ensino, gratuito e tal. Chegando a oitava série, me preparei suficientemente. Fiz a prova, e apesar de conseguir a pontuação necessária, fui desclassificado em matemática, por não ter atingido o percentual mínimo nesta matéria. ¿Por que? Eu não sei, sempre fui bom em matemática.
A leitura, sempre me ajudou em todos os concursos que prestei.
No ano seguinte tentei novamente, e consegui. ¿Por que desta vez, e não da outra, em que havia estudado mais?
Ingressei numa turma e fiz um grupo de amigos que são extremamente responsáveis pelo que sou até hoje. ¿Por que tinha de estar nesta turma?
Antes de ingressar no 3º ano do ensino médio, já estando numa instituição que oferecia cursos técnicos, a própria inércia o leva a fazer um. Não sabendo qual carreira seguir, acabei escolhendo informática. Fiz a prova, e não passei. ¿Por que?
No meio do semestre seguinte, meu pensamento foi se refinando (quem me dera continuar assimilando conhecimentos como na adolescência). Percebi que não queria seguir nenhuma carreira normal. Queria ir tocar numa banda com meus amigos, eu já compunha. Queria ser escritor.
Resolvi fazer um curso técnico de mecânica com ênfase em petróleo e gás, supondo que isto me ajudaria a ingressar na Petrobras. Trabalhando na Petrobras, que tem uma escala de trabalho interessante, eu teria tempo para escrever e, executaria minha vontade, e ainda teria um trabalho que não me deixaria morrer de fome.
Fui estudar para o concurso, chamei o Everton e fomos corrigir a prova que eu tinha feito no semestre anterior. Eu tinha acertado as mais difíceis e errado as mais banais. ¿Por que não passei?
O Everton quis fazer eletrotécnica, eu mecânica, passamos com sobras. ¿Por que passar então? ¿Por que com sobras? ¿Por que não passei na outra prova?
Eu queria seguir uma carreira. Fui fazer todo um curso técnico na expectativa de ingressar em uma única empresa. ¿E se eu não conseguisse?
Durante o curso técnico, estava morando com meu pai, e, dado a incrível educação e respeito com que ele me tratava, deduzi que tinha que arranjar uma namorada, para consolar certas atribulações. Era um feriado prolongado, de quinta à domingo. Olhei para o PC e pensei: é aqui. ¿Por que na internet, e não num local comum?
Confiante em minha capacidade de escrever, inferi que conseguiria uma namorada. Na sexta-feira seguinte, comecei o relacionamento. ¿Por que com ela?
O namoro não ia tão bem, entrei na net, numa sala de bate-papo qualquer... já então eu sabia do potencial, hoje eu sei que àquilo deveras é um cardápio. Para meninos e para meninas.
Conheci uma menina, nos encontramos, mas eu namorava outra. O namoro passara por tempestades e jamais foi o mesmo. Certas coisas são inesquecíveis. Acabei começando a namorar esta última. ¿Por que eu as encontrei? ¿Por que me conectei naqueles dias na net, naquela sala, chamei àquela pessoa para teclar? ¿Eu não poderia ter chamado outra? ¿Não poderia ter o telefone tocado? ¿Não poderia minha conexão ter caído (à época era discada e de confiabilidade baixíssima)? ¿Por que nada disto aconteceu? Como minha vida seria diferente sem elas...
Nestes namoros, aprendi muito, de maneiras dolorosas, como são as grandes aprendizagens. Fui de A à Z para tentar agradar alguém. Não bastou. Só eu mudei e mudei bastante.
Dei um fim, novamente.
Quando estava findando o curso técnico, sem a efetiva certeza que conseguiria ingressar na Petrobras, julguei que deveria fazer um curso superior. Como as engenharias na UFES são de dia, para brancos filhos de pais ricos, que não tem de sustentar família, por isso não tem nenhuma pressa em começar a trabalhar, resolvi tentar um curso de tecnologia no mesmo CEFETES, à noite. Eu e o Everton fizemos a prova, e passamos.
Entramos no curso, e, no início do mesmo, fizemos uma prova para ingressarmos na Petrobras. O Everton conseguiu melhor pontuação e logo foi chamado, tendo de ficar cerca de um ano fora, trancando dois períodos. Depois acabou por abandonar o curso.
Eu ainda fazia estágio e, ao fim do mesmo, com a vaga na mão, não pude ingressar na empresa em que estagiava porque tenho problema na coluna. ¿Será que tinha sido tudo em vão? ¿Todo o curso técnico? ¿No meio de um curso superior, possivelmente sendo feito em vão? ¿E se eu não pudesse ingressar em nenhuma empresa, nem mesmo na Petrobras, por causa desta merda desta coluna?
Bem, seis meses depois do fim do estágio, solteiro, passando um perrengue, ainda estudante e morando com minha mãe, fui chamado para fazer exames na petrobras. Três meses depois, consegui entrar na empresa. Eu deveria trancar a faculdade por um tempo que eu não saberia qual. Porém, no primeiro dia em que tive efetivamente de começar a trabalhar na Petrobras, em Macaé, começou uma greve no CEFET-ES. Eu fiquei nove meses fora e, por causa da greve, tive de trancar somente um período. ¿Por que ingressar na empresa justamente no primeiro dia da greve? ¿Por que trancar somente um período?
Um amigo, Marcelo Maurício, também teve de trancar um período, para estudar para um concurso. Como não houve processo seletivo no semestre anterior, acabou se formando uma turma com apenas dois alunos, eu e ele. Então, certo dia não houve aula,e ele tinha ouvido falar sobre uma feira da terra, na Prainha (local da chegada dos primeiros portugueses no Espírito Santo, onde tomaram uma baita surra dos índios) em que haveria bandas tocando. Para lá fomos, pra não perdermos a noite.
Ele então se encontrou com uma amiga, Sandra. Ela havia marcado com outra amiga, mas esta não foi. Por não ter companhia, acabou ficando conosco. ¿Por que será que a amiga da Sandra não foi?
Gostei muito do papo da menina e, resolvi ir ver no que dava. Acabou não dando em nada.
Quando eu a conheci, ela morava no mesmo município que eu, Vila Velha. Pouco tempo depois, ela se mudou para São Mateus, a 250kM daqui. Como minha tentativa foi frustrada, acreditei que aquilo era o melhor que havia acontecido, era o “destino”, ou o “acaso”, fazendo sua parte.

Tempos depois a Sandra me procurou, começamos a namorar, e assim estamos até hoje. Ir pra São Mateus, que parecia ser a própria execução das esperanças, mostrou-se o contrário. Por diversos motivos, foi a salvação do namoro.

Bem, este encadeamento de fatos, entrar numa turma, fazer provas, não passar, fazer outras provas, passar, seguir certo curso, encontrar certas pessoas, terminar com certas pessoas, estar preparado para encontrar alguém, ¿seria isto tudo fruto do acaso?
Os fatos são tão encadeados...
E os desdobramentos destas atitudes são eternos...

Cada atitude, cada posicionamento, cada resposta, cada procedimento, é como uma pedra jogada no meio de um lago. E, as ondas que elas formam, vão para o infinito.

A minha fórmula da vida é a seguinte:
RCA = ED + EB.
Onde:
RCA = Reação em cadeia
ED = Efeito dominó
EB = Efeito Borboleta

Eu quis frisar que supus o não começo do namoro com a Sandra, como o destino atuando. Afinal, a ida dela para São Mateus seria algo ruim para um casal de namorados.
Depois, pude perceber a minha inocência em querer deduzir o que o destino traria, ou não, para mim.
Eu teria desistido de muitas coisas se somente acreditasse na força do destino.
Bem, era mais ou menos isto que eu queria dizer, não sei se fui claro.

¡Ah! Pra quem não acredita em um Deus, um ser criador de todas as coisas, imagine só.
Tudo o que existe, da cadeira em que estamos sentados, a uma galáxia, de um quadro de Mino Carta a uma (estrela) supergigante, da cadência de uma bailarina à trajetória de uma órbita, do ponto vernal a um pulsar, de uma supernova a uma estrela do rock, de um aglomerado ao amor, de um buraco-negro à anti-matéria, tudo, tudo que existe, tudo que está no horizonte dos eventos, foi feito a partir... do acaso...
Grande capacidade de sonhar tem os ateus, e não os crédulos.
Refletindo bem... os ateus também tem um Deus. E este Deus, chama-se acaso (¿devo utilizar letra maiúscula?).

¿Alguém conseguiria pensar que o computador que está à sua frente, foi feito do nada? Julgo que não, isto seria uma insanidade. Alguém o projetou, alguém o construiu, obviamente. Agora, alguns conseguem acreditam que todo o universo, tudo que o compõe, tudo que nele existe, foi feito do nada, simplesmente existe, foi criado pelo acaso.
É demais para mim.

A dialética

Sou de extrema esquerda, julgo que todos que lêem o blog sabem disto. Pois bem, para ser dialético, devo dizer o que me espanta da esquerda.
Primeiro, sou radicalmente contrário ao aborto.
Segundo, não tenho apreço e peninha de bandidos.

No primeiro tópico, porque há métodos contraceptivos demais. Já não há justificativas para tanto.
No segundo tópico, porque só a conscientização e a educação, não bastam. Há algo de podre na raça humana. Algo que a maioria de nós consegue conter. E este algo que nem todos conseguem, só pode ser combatido no terreno da força bruta.

São irônicos alguns preceitos da direita e da esquerda.
Exemplo: a direita é contrária ao aborto, mas é favorável à pena de morte (?).
Já a esquerda é favorável ao aborto e contrária à pena de morte (?).

Eu não tenho opinião definida sobre a pena de morte, mas que há uma puta ironia na forma como este tema tão relevante é tratado, ah... se há...

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Uma dúvida

Parece que minha vida se resume em desculpar e fazer concessões aos outros.
Será que a vida dos outros é a mesma coisa?

Aforismo XXII

Qual é a finalidade da arte?
Escrevam em pedra:
“A arte tem por finalidade me agradar”.

Carece explicação melhor?

Aforismo XXI

Nada em mim é resiliente.

Descriminalização das drogas


Os mais bem intencionados que defendem a descriminalização das drogas julgam que tal medida afetaria o tráfico.

Bem, eles querem crer que os traficantes deliberadamente quererão pagar imposto.
Eles imaginam que os usuários deliberadamente quererão pagar imposto.
Eles querem nos fazer crer que os usuários pagarão efetivamente mais caro apenas para se dizerem dentro da lei

Eu pergunto: se eles não se importam em ludibriar um crime grave como o uso/tráfico de drogas, se importarão com o crime de sonegação de impostos?

Eles realmente imaginam que o tráfico se enfraquecerá com a descriminalização!
Que sonhadores, meu Deus!
Digo sonhadores para não dizer idiotas.