domingo, 6 de janeiro de 2008

Reação em cadeia


Eu gosto de ler. ¿Por que?
Sempre me orientaram a fazer prova para ingressar na escola técnica (então CEFET-ES, quando ingressei), que é federal, bom ensino, gratuito e tal. Chegando a oitava série, me preparei suficientemente. Fiz a prova, e apesar de conseguir a pontuação necessária, fui desclassificado em matemática, por não ter atingido o percentual mínimo nesta matéria. ¿Por que? Eu não sei, sempre fui bom em matemática.
A leitura, sempre me ajudou em todos os concursos que prestei.
No ano seguinte tentei novamente, e consegui. ¿Por que desta vez, e não da outra, em que havia estudado mais?
Ingressei numa turma e fiz um grupo de amigos que são extremamente responsáveis pelo que sou até hoje. ¿Por que tinha de estar nesta turma?
Antes de ingressar no 3º ano do ensino médio, já estando numa instituição que oferecia cursos técnicos, a própria inércia o leva a fazer um. Não sabendo qual carreira seguir, acabei escolhendo informática. Fiz a prova, e não passei. ¿Por que?
No meio do semestre seguinte, meu pensamento foi se refinando (quem me dera continuar assimilando conhecimentos como na adolescência). Percebi que não queria seguir nenhuma carreira normal. Queria ir tocar numa banda com meus amigos, eu já compunha. Queria ser escritor.
Resolvi fazer um curso técnico de mecânica com ênfase em petróleo e gás, supondo que isto me ajudaria a ingressar na Petrobras. Trabalhando na Petrobras, que tem uma escala de trabalho interessante, eu teria tempo para escrever e, executaria minha vontade, e ainda teria um trabalho que não me deixaria morrer de fome.
Fui estudar para o concurso, chamei o Everton e fomos corrigir a prova que eu tinha feito no semestre anterior. Eu tinha acertado as mais difíceis e errado as mais banais. ¿Por que não passei?
O Everton quis fazer eletrotécnica, eu mecânica, passamos com sobras. ¿Por que passar então? ¿Por que com sobras? ¿Por que não passei na outra prova?
Eu queria seguir uma carreira. Fui fazer todo um curso técnico na expectativa de ingressar em uma única empresa. ¿E se eu não conseguisse?
Durante o curso técnico, estava morando com meu pai, e, dado a incrível educação e respeito com que ele me tratava, deduzi que tinha que arranjar uma namorada, para consolar certas atribulações. Era um feriado prolongado, de quinta à domingo. Olhei para o PC e pensei: é aqui. ¿Por que na internet, e não num local comum?
Confiante em minha capacidade de escrever, inferi que conseguiria uma namorada. Na sexta-feira seguinte, comecei o relacionamento. ¿Por que com ela?
O namoro não ia tão bem, entrei na net, numa sala de bate-papo qualquer... já então eu sabia do potencial, hoje eu sei que àquilo deveras é um cardápio. Para meninos e para meninas.
Conheci uma menina, nos encontramos, mas eu namorava outra. O namoro passara por tempestades e jamais foi o mesmo. Certas coisas são inesquecíveis. Acabei começando a namorar esta última. ¿Por que eu as encontrei? ¿Por que me conectei naqueles dias na net, naquela sala, chamei àquela pessoa para teclar? ¿Eu não poderia ter chamado outra? ¿Não poderia ter o telefone tocado? ¿Não poderia minha conexão ter caído (à época era discada e de confiabilidade baixíssima)? ¿Por que nada disto aconteceu? Como minha vida seria diferente sem elas...
Nestes namoros, aprendi muito, de maneiras dolorosas, como são as grandes aprendizagens. Fui de A à Z para tentar agradar alguém. Não bastou. Só eu mudei e mudei bastante.
Dei um fim, novamente.
Quando estava findando o curso técnico, sem a efetiva certeza que conseguiria ingressar na Petrobras, julguei que deveria fazer um curso superior. Como as engenharias na UFES são de dia, para brancos filhos de pais ricos, que não tem de sustentar família, por isso não tem nenhuma pressa em começar a trabalhar, resolvi tentar um curso de tecnologia no mesmo CEFETES, à noite. Eu e o Everton fizemos a prova, e passamos.
Entramos no curso, e, no início do mesmo, fizemos uma prova para ingressarmos na Petrobras. O Everton conseguiu melhor pontuação e logo foi chamado, tendo de ficar cerca de um ano fora, trancando dois períodos. Depois acabou por abandonar o curso.
Eu ainda fazia estágio e, ao fim do mesmo, com a vaga na mão, não pude ingressar na empresa em que estagiava porque tenho problema na coluna. ¿Será que tinha sido tudo em vão? ¿Todo o curso técnico? ¿No meio de um curso superior, possivelmente sendo feito em vão? ¿E se eu não pudesse ingressar em nenhuma empresa, nem mesmo na Petrobras, por causa desta merda desta coluna?
Bem, seis meses depois do fim do estágio, solteiro, passando um perrengue, ainda estudante e morando com minha mãe, fui chamado para fazer exames na petrobras. Três meses depois, consegui entrar na empresa. Eu deveria trancar a faculdade por um tempo que eu não saberia qual. Porém, no primeiro dia em que tive efetivamente de começar a trabalhar na Petrobras, em Macaé, começou uma greve no CEFET-ES. Eu fiquei nove meses fora e, por causa da greve, tive de trancar somente um período. ¿Por que ingressar na empresa justamente no primeiro dia da greve? ¿Por que trancar somente um período?
Um amigo, Marcelo Maurício, também teve de trancar um período, para estudar para um concurso. Como não houve processo seletivo no semestre anterior, acabou se formando uma turma com apenas dois alunos, eu e ele. Então, certo dia não houve aula,e ele tinha ouvido falar sobre uma feira da terra, na Prainha (local da chegada dos primeiros portugueses no Espírito Santo, onde tomaram uma baita surra dos índios) em que haveria bandas tocando. Para lá fomos, pra não perdermos a noite.
Ele então se encontrou com uma amiga, Sandra. Ela havia marcado com outra amiga, mas esta não foi. Por não ter companhia, acabou ficando conosco. ¿Por que será que a amiga da Sandra não foi?
Gostei muito do papo da menina e, resolvi ir ver no que dava. Acabou não dando em nada.
Quando eu a conheci, ela morava no mesmo município que eu, Vila Velha. Pouco tempo depois, ela se mudou para São Mateus, a 250kM daqui. Como minha tentativa foi frustrada, acreditei que aquilo era o melhor que havia acontecido, era o “destino”, ou o “acaso”, fazendo sua parte.

Tempos depois a Sandra me procurou, começamos a namorar, e assim estamos até hoje. Ir pra São Mateus, que parecia ser a própria execução das esperanças, mostrou-se o contrário. Por diversos motivos, foi a salvação do namoro.

Bem, este encadeamento de fatos, entrar numa turma, fazer provas, não passar, fazer outras provas, passar, seguir certo curso, encontrar certas pessoas, terminar com certas pessoas, estar preparado para encontrar alguém, ¿seria isto tudo fruto do acaso?
Os fatos são tão encadeados...
E os desdobramentos destas atitudes são eternos...

Cada atitude, cada posicionamento, cada resposta, cada procedimento, é como uma pedra jogada no meio de um lago. E, as ondas que elas formam, vão para o infinito.

A minha fórmula da vida é a seguinte:
RCA = ED + EB.
Onde:
RCA = Reação em cadeia
ED = Efeito dominó
EB = Efeito Borboleta

Eu quis frisar que supus o não começo do namoro com a Sandra, como o destino atuando. Afinal, a ida dela para São Mateus seria algo ruim para um casal de namorados.
Depois, pude perceber a minha inocência em querer deduzir o que o destino traria, ou não, para mim.
Eu teria desistido de muitas coisas se somente acreditasse na força do destino.
Bem, era mais ou menos isto que eu queria dizer, não sei se fui claro.

¡Ah! Pra quem não acredita em um Deus, um ser criador de todas as coisas, imagine só.
Tudo o que existe, da cadeira em que estamos sentados, a uma galáxia, de um quadro de Mino Carta a uma (estrela) supergigante, da cadência de uma bailarina à trajetória de uma órbita, do ponto vernal a um pulsar, de uma supernova a uma estrela do rock, de um aglomerado ao amor, de um buraco-negro à anti-matéria, tudo, tudo que existe, tudo que está no horizonte dos eventos, foi feito a partir... do acaso...
Grande capacidade de sonhar tem os ateus, e não os crédulos.
Refletindo bem... os ateus também tem um Deus. E este Deus, chama-se acaso (¿devo utilizar letra maiúscula?).

¿Alguém conseguiria pensar que o computador que está à sua frente, foi feito do nada? Julgo que não, isto seria uma insanidade. Alguém o projetou, alguém o construiu, obviamente. Agora, alguns conseguem acreditam que todo o universo, tudo que o compõe, tudo que nele existe, foi feito do nada, simplesmente existe, foi criado pelo acaso.
É demais para mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal!! gostei!!!
esta é sua história de vida né!!
a minha está indo pelo mesmo percurso que o seu!!!