sábado, 19 de janeiro de 2008

Vidas partidas

O tilintar metálico do garfo preenche o ar. O hálito fresco da noite invade a casa e acaricia meu rosto. Mais um dia chega ao fim. E enquanto o sol agoniza no horizonte, meus olhos vagam pela casa vazia. Os móveis, a luz pálida da TV, o tic-tac do relógio, as formas contorcidas da comida, seu brilho gorduroso, seu gosto salgado. Salgado como teu suor... Ah!... Teu suor. Estrelas pontuando tua pele, que a luz morna do abajur revela, em meio às sombras dançarinas do ventilador de teto. A respiração pesada, os risos, o branco dos dentes, o brilho dos olhos... Nossos corpos se movimentam ritmados, como se fôssemos um único ser. Um animal desvairado, um corcel andaluz, que sôfrego busca o horizonte infinito. Sinto tuas unhas em minha carne. E minha boca tem sede da tua. Te bebo então. Desces por minha garganta doce e morna como um conhaque. Teu calor, teu gosto se espalham por minhas veias, enquanto sinto meu corpo se contrair num derradeiro espasmo. Que percorre meus músculos, vísceras e entranhas. A visão me foge por um instante, enquanto te abraço. Ao voltar revela teu rosto, que amanhece em luz, em cor e prazer. Doce menina num corpo de mulher. Porém, “de repente, não mais que de repente” o toque ríspido do telefone me arranca dos laços da imaginação. Meus olhos estão úmidos, o peito apertado mau consegue respirar. Estou de volta a sala de jantar, ao noticiário da TV à comida gelada no prato. Você já não esta aqui. Tudo foi muito rápido. Como a explosão de uma supernova, enchendo de luz a vastidão sideral. Muito foi dito, no entanto, muito mais ficou por dizer... Por viver.... Parece que te conhecia desde sempre, desde o nascimento do universo. Talvez isso explique essa imensa saudade de tudo que não vivemos.

Um comentário:

Doney disse...

Valeu, companheiro... Bela estréia.

Sê bem vindo a este humilde recanto...