quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Aforismo XLVI

Quando Nicolau Maquiavel afirmou em sua obra que era preferível aos governantes serem temidos que amados, o autor, talvez sem saber, esbarrou num dos principais paradigmas religiosos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sobre o aliado bomba e a ignorância

1 - Imagine-se que o Brasil tornasse a ser colônia de Portugal.

2 – Em outra ponta, muitos crimes são cometidos dentro do território espanhol e em países próximos contra argentinos. Argentina, como a conhecemos, não existia. Os argentinos não tinham país há muitos e muitos séculos, tendo sido reduzidos a um povo sem pátria, vivendo em muitas nações, sofrendo preconceitos e toda sorte de maldades em vários deles.

3 – Depois de muito sofrimento, os argentinos são libertados de sua dor. Porém, ninguém os quer. Por isto, a Inglaterra, os EUA e a ONU os mandam para o Brasil. O Brasil deixa de ser colônia, mas vê amputado seu território, pois, segundo argumento alegado, mais de mil e quinhentos anos atrás (quando sequer havia países como conhecemos hoje), os argentinos viveram aqui, em nossa terra.

4 - Por que não criar um território lá, onde os argentinos viviam, por que aqui?

5 – Não aceitando o fato, os brasileiros, apoiados pelos vizinhos sul-americanos, decidem lutar contra a Argentina que foi criada sobre o Brasil. Porém, os EUA apóiam militarmente a Argentina e, ela não só vence, como toma parte dos territórios da Bolívia, do Peru, e toma a maior parte do Brasil. Nossa pátria fica reduzida aos estados de Rondônia e Sergipe. Como sabemos, Rondônia e Sergipe sequer têm fronteiras entre si. Ou seja, as partes restantes do nosso país ainda ficam separadas. A Argentina no meio, tendo conquistado militarmente um território muito maior do que fora “benevolamente” “doado” pela ONU.

5 – Como não poderia deixar de ser, grande parte da população brasileira ficou no que passou a ser a Argentina. Nestes lugares, numa terra que é sua, onde propriamente nasceram, os brasileiros passam a sofrer todo o tipo de humilhações: são tratados como sub-raça, têm os piores empregos, são maltratados pelo exército argentino, não tem um país que possam chamar de seu, etc., e são abandonados pela comunidade internacional, mais preocupada com os “inquestionáveis” interesses argentinos.

6 – Como era de se esperar, alguns bravos brasileiros insurgem-se contra estas iniquidades. Passam a lutar, com as armas que possuem contra a Argentina, para defender o Brasil.

Pergunto:
¿Os combatentes brasileiros poderiam ser chamados de terroristas?
¿Eles não seriam frutos das circunstâncias a que estão sendo submetidos?
¿Um patriota agiria diferente disto?

Concatenando à nossa triste realidade: ¿como, ter integridade e não tomar partido a favor da Palestina?
Cito Saramago: “Israel quer que nos sintamos culpados, todos nós, directa ou indirectamente, dos horrores do Holocausto, Israel quer que renunciemos ao mais elementar juízo crítico e nos transformemos em dócil eco da sua vontade, Israel quer que reconheçamos de jure o que para eles é já um exercício de facto: a impunidade absoluta. Do ponto de vista dos judeus, Israel não poderá nunca ser submetido a julgamento, uma vez que foi torturado, gaseado e queimado em Auschwitz. Pergunto-me se esses judeus que morreram nos campos de concentração nazis, esses que foram trucidados nos pogromes, esses que apodreceram nos guetos, pergunto-me se essa imensa multidão de infelizes não sentiria vergonha pelos actos infames que os seus descendentes vêm cometendo. Pergunto-me se o facto de terem sofrido tanto não seria a melhor causa para não fazerem sofrer os outros.(...) Ah, sim, as horrendas matanças de civis causadas pelos terroristas suicidas… Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba”.

Desde Harry Truman, este câncer que assolou os EUA, este país alterou lobregamente sua política externa (com uma leve amenização no governo Carter), passando a não só a avalizar, como apoiar militarmente Israel em tudo o que este país intencionasse fazer, independente da causa e dos motivos.

Carece perguntar, singelamente, se realmente vale a pena ter um país, qualquer país, como aliado, se sabemos que ele destrói todos os princípios que nós dizemos (ou pretendemos) observar.
Os nossos próprios princípios se escoam quando nos omitimos perante tais atitudes, quando avalizamos tais atitudes, que dirá de quando apoiamos maciçamente tais atitudes... E, isto tudo, pelo singelo preço de... termos um aliado.
¿Vale a pena?
É uma pergunta, relevante pergunta, em qualquer tipo de aliança que se faça em política (perdoem-me, escuso-me aqui de tratar do PMDB).


Voltando a pergunta 4: por que não criar um território lá, onde os israelenses viviam, por que em cima da Palestina?
Porque, justificam eles, este é o território sagrado, dos israelitas, deste povo, “escolhido de Deus”, segundo diversas passagens da bíblia.
Muito me espanta que todo um povo possa sentir-se melhor do que outro, argumentando que Deus o prefere, o escolheu, sabe-se lá por quais razões.
Eu, cá com minha ignorância religiosa, a despeito da Bíblia dizer o oposto, sempre julguei que o Pai Celestial tivesse mais apreço pela humanidade como um todo, e não especificamente por alguns terem, pelo acaso do destino, nascido em determinado lugar. Pode-se ter, dependendo do tipo de crença, a convicção de que Deus nos escolheu especificamente para certo lugar. Tudo bem, pode ser uma opinião válida, vai saber. Porém, tanto se nascemos onde nascemos pelos desígnios insondáveis do destino, quanto pelo desejo específico de Deus, em qualquer uma das formas, não tivemos controle nenhum sobre tal feito, donde, ¿como poderíamos ser culpados, ou abençoados, por tal acontecimento?
¿Que mente brilhante pode chegar a conclusão de que se é “escolhido de Deus” por simplesmente ter nascido em determinado lugar?
Estas perguntas denotam para os judeus e para os cristãos uma evidência incontrastável da ignorância deste que escreve, é claro.
Como todos aqueles que ousam criticar Israel, de acordo com eles, são anti-semitas, julgo que acabarão por me incluir como partidário dos nazistas.
Logo eu, que sou comunista, o que é, em outros termos, ser exatamente o avesso de um nazista.
Mas tudo bem, ¿fazer o que?
Não há argumentos contra a imbecilidade e/ou o fanatismo.