terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Solidão


Eu poderia dizer que é terrível a solidão.

Eu poderia dizer que é terrível sair para o trabalho, retornar a noite e encontrar tudo em casa exatamente no mesmo lugar, sem uma única bendita alteração.
Eu poderia dizer que é terrível ver algo na TV e não poder conversar com alguém o tanto que discordo daquilo.
Eu poderia dizer que é terrível não haver ninguém para lhe lembrar que as panelas estão no fogo.
Eu poderia dizer que é terrível a ausência das perguntas, dos questionamentos, dos debates.

Eu poderia dizer que é terrível não haver ninguém lhe orientando a comer melhor (a alimentação de um solteiro é uma das coisas mais insanas da natureza).
Eu poderia dizer que é terrível ver um ótimo filme sozinho.
Eu poderia dizer que é terrível vir da rua com um comentário ótimo para fazer, chegar e não ter ninguém para contar.
Eu poderia dizer que é terrível ninguém reclamar da toalha jogada em cima da cama.
Eu poderia dizer que é terrível ser um copo cheio e não haver ninguém para bebê-lo. E ninguém para enchê-lo quando você está se sentindo vazio.

Eu poderia dizer que é terrível começar a questionar se minha cidade não deveria se chamar Macondo.
Eu poderia dizer que é terrível ter a televisão como fuga.
Eu poderia dizer que é terrível ir à noite à praia, o vento gelado lhe açoitar e ver-se absolutamente sozinho.


Eu poderia dizer que é terrível ser sempre você o escolhido para lavar as vasilhas.
Eu poderia dizer que é terrível ninguém reclamar da minha barba mal feita.
Eu poderia dizer que é terrível chegar o fim de semana, todos os seus amigos estarem ocupados com seus respectivos pares, você tem todo o tempo do mundo e nada para fazer.


Eu poderia dizer que é terrível perder a hora e ninguém te acordar dizendo que vais chegar tarde.
Eu poderia dizer que é terrível ter a nítida sensação de que estás mais lembrando do que vivenciando coisas.
Eu poderia dizer que é terrível olhar algo em qualquer lugar, lembrar de uma piada muito cômica e se calar, porque ninguém a ouvirá.
Eu poderia dizer que é terrível serem somente suas as idéias brilhantes e imbecis.


Eu poderia dizer que é terrível conversar sozinho, e isto é inevitável, pois a própria garganta se cansa de ficar sedentária.
Eu poderia dizer que é terrível encontrar um grande amigo que há tanto tempo não via, e depois de se despedirem, simplesmente ter que guardar pra si as incríveis histórias que vocês tinham vivido em outros tempos.
Eu poderia dizer que é terrível sentir que, caso aqueles pensamentos estranhos que eventualmente lhe ocorrem sobrepujassem as suas forças, seu corpo não seria encontrado antes de começar a feder. Ninguém daria por sua falta.



Eu poderia dizer que é terrível, mas não é. É macabro e inumano.

Eu poderia dizer que mais terrível, macabro e inumano é acostumar-se a isto.


Eu poderia dizer que mais terrível, macabro e inumano do que acostumar-se a isto, é sentir que assim estás melhor.
Ou, desse jeito, esteve melhor do que está hoje.

Talvez eu tenha que refletir.

Aforismo XXIV

Só acha caro quem não vende o produto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Estratrágico

Nos últimos anos, quase que inadvertidamente, acabei por adotar certa “estratégia”. Deixo de pedir dez coisas, para pedir apenas uma e, ser atendido.
Afinal, faz sentido que, sendo tão raros os meus pedidos, considerariam de maneira especial quando os fizesse.

Só posso dividir com vocês que é incrível a capacidade dos meus planos, deliberados, ou não, de darem errado.



Post Scriptum: tô abusando dos neologismos, né? Vou parar com isto.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Pinturas

Hoje tô postando só para indicar dois sites que contém belíssimas imagens, um estrangeiro (que se destaca, não dá pra omentir) e um tupiniquim. Lá vão:
http://www.setowski.com/engl/galeria_olejne_dawno.html e http://vileardi.blogspot.com/ .