No Antigo testamento, especificamente no primeiro
livro dos Reis, 3,16-28, conta-se a história que duas prostitutas viviam
juntas, e uma teve um filho com apenas três dias de diferença da outra. Porém,
uma das crianças morreu à noite, e as mães se acusavam reciprocamente de terem
trocado o menino, de modo a parecer que fora o rebento da outra que falecera e
o seu permanecia vivo. Restara, portanto, uma criança para duas auto-atribuídas
mães. Elas dirigiram-se ao rei Salomão, em um costume antigo, pedindo que Sua Majestade fizesse justiça, tomando uma decisão sobre a demanda que as dividia.
Como solução para esta querela, o Rei israelita
pediu então uma espada para partir a criança ao meio, desta maneira cada uma das
mães ficaria com a metade do corpo do neném e ambas estariam satisfeitas. Ante
decisão tão severa, uma das mulheres preferiu ceder e entregar o filho inteiro
a outra do que vê-lo cortado. Esta outra, entretanto, concordou com a cruel
divisão do bebê em duas postas.
A pequena história poderia ser mais uma
das múltiplas decisões ásperas do Antigo Testamento, mas o rei Salomão, em um
gesto de sabedoria emanada do próprio Deus, manda então que se entregue a
criança viva e íntegra a primeira mulher, que preferira perder o filho a vê-lo
dividido. Aquela era a mãe.
Muito curioso é que ao término dessa
história, “todo o Israel ouviu a sentença
que o rei proferira, e temeu ao rei; porque viu que havia nele a sabedoria de
Deus para fazer justiça.”
De minha parte, sempre imaginei que a
justiça aplicada com sabedoria não seria algo a se temer, mas sim a se louvar. O
povo israelita parecia pensar diferente.
Não sei se algo mudou até os dias
hodiernos.
Em outro momento, o mesmo Salomão, em um
dos seus múltiplos adágios considerados inspirados (em vários sentidos),
afirmou que nada de novo havia de baixo do sol. Mais adiante, no Eclesiastes, esta frase é reforçada por Coélet (um personagem que atribui fabulosamente seus escritos a Salomão) asseverando que se alguém diz “Olha, isto é novo”, se equivoca, pois já ocorreu antes de nós.
Os dois sábios não só foram desmentidos literalmente pelos
avanços tecnológicos, que nos permitiram avançar para lá dos céus onde eles sequer imaginavam que alguém (ou alguma coisa enviada por nós) poderia certo dia
alcançar, mas mesmo metaforicamente, seus aforismos não se sustentam.
Isto porque, pra quem se atenta, a vida não para de nos surpreender.
Isto porque, pra quem se atenta, a vida não para de nos surpreender.