quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Verdades mal explicadas

Gosto de teclar por aqui, uma das coisas que agrada é o fato de várias pessoas terem autonomia para escrever – a despeito de poucas efetivamente escreverem –, o que impede que o blog vire um diário.
Já uma coisa da qual não gosto é o título do blog. Não gosto simplesmente porque não cabe ao que escrevo.
Porém, mudar o título sem mudar o endereço é contraproducente, sair daqui também não quero... Enfim, estacionei na inconformidade.

Só criticar não basta, é claro, é preciso contribuir com sugestões.
Se eu tivesse construído o blog, poderia, para antagonizar o nome atual, escolher “Verdades mal explicadas”.

Sobre o pior

Muitas vezes leio, ou vejo, pessoas dizendo que George War Bush é o pior presidente da história dos Estados Unidos.
Com certeza seu governo é uma excrescência, mas quem afirma que é o pior, deveria procurar saber mais sobre Harry Truman, o pai da Guerra Fria, das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, e de tantas outras sandices.
Não dá nem pra comparar.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Placa de Petri

A melhor metáfora que posso conceber para a crise financeira atual é a da Placa de Petri.
Neste material, colônias de bactérias crescem exponencialmente até esgotarem o suprimento alimentar e literalmente afogarem-se em suas próprias excreções.

É o resumo cabal do que os especuladores globais estão vivendo.

Pergunta aos hermanos

A Argentina tem como novo treinador de sua seleção de futebol o inefável Diego Maradona. Pergunta que não quer calar: e se houver exame de doping para técnicos?

domingo, 26 de outubro de 2008

Da série constatações

Faço de tudo para que o mínimo possível de coisas me irrite, faz bem à própria saúde e também a dos outros.

Mas, claro, sempre há o que não deixa de incomodar.
E, uma destas coisas, é a tal expressão “forró pé-de-serra”. Ainda mais quando vem colado com uma suposta autenticidade: “o verdadeiro forró pé-de-serra”.

Que excrescência.

Pois bem, não poderia deixar de afirmar que, para mim, o “verdadeiro forró pé-de-serra”, e o “pseudo forró pé-de-serra” são uma bela bosta.

Idéias

I - A escrita deveria seguir como se fala. Tem som de “z”, escreve-se com “z”. Tem som de “x”, escreve-se com “x”. Extinga-se este aborto da natureza que é a cedilha. Já que nenhuma palavra começa com esta letra, poderíamos também determinar que nenhuma a tivesse no meio, tampouco no fim. Extinga-se “ch” com som de “x” (“cachorro”), “s” com som de “z” (“mesa”), etc. Ah, não tenho muita convicção a respeito das palavras com som de “s”. Por exemplo, “osso”. Mas, acho que bastaria apenas um s, mesmo.

II – Acabar com prescrição de penas. Ora, se um meliante cometeu um crime, por que o tempo que permaneceu fora da cadeia pode contar como atenuante? Não seria o tempo que passasse dentro da cadeia que deveria contar? Ao contrário, na medida em que um meliante não presta contas à sociedade, ou foge, ou utiliza os mais de mil e um recursos que as leis permitem para atrasar processos, sua dívida para com a sociedade aumenta, e não diminui! Desta maneira, proponho o fim da prescrição em qualquer caso.

III – Para completar a idéia anterior, acredito que a cada recurso protelatório (eu sei que é um pleonasmo, todo recurso calha de ser protelatório) deveria se aumentar a pena em algum percentual. Imagino que no mínimo 10%.
Por quê? Ora, se uma pessoa ingressa com recursos, e eles vão sendo gradativamente negados pela justiça, ao fim do processo, a justiça terá muito mais convicção, muito mais base nos fatos para decretar uma pena maior do que até então daria.
Afora o fato de se somar à idéia número 2 e, ser um impeditivo para que os intermináveis recursos sejam impetrados.
E, esta idéia valeria como um todo. 10 anos de cadeia, ingressou com um recurso, vai pra 11 se for condenado. Entrou com outro recurso, vai a 12,1 anos. Mais um, vai a 13, 3 anos. Se for uma briga por recursos financeiros, a mesma coisa. Pagaria 10 mil reais, ingressou com um recurso, vai a 11.... e assim sucessivamente.

IV – Jogos de futebol devem ter tempo contado como os de futsal, em que o tempo pára quando o jogo é paralisado. Em média, um tempo tem cerca de 30 minutos de bola rolando. Então, que se fixe este valor. Aí, nenhum time ficaria catimbando, enrolando ao máximo quando algum placar o favorece, o que tira muito do prazer e da justiça de certas partidas.

V – As prorrogações dos jogos de futebol seriam extintas. 90 minutos de jogo (afora os acréscimos) é muito tempo. Mesmo reduzindo aos 60 de bola rolando, conforme idéia anterior, ainda assim seria muito tempo. O que tinha pra ter acontecido num jogo tão grande, já aconteceu. Vamos aos pênaltis, que são sempre emocionantes.

VI – As contribuições previdenciárias das empresas deveriam considerar seu faturamento, e não só a quantidade de funcionários que lá trabalham. Isto oneraria menos quem emprega. Se não dá pra subsidiar todos, que se subsidiem os que empregam mais proletários.

VII – Deveriam ser equitativamente repartidos os dividendos entre os acionistas (ou donos de empresas) e entre os trabalhadores que efetivamente geraram este lucro quando as empresas tivessem um lucro líquido que superasse determinado valor. Imagino que 1 milhão de reais. Sobre os dividendos pagos aos empregados, seria um mesmo valor para todos.

VIII – Voltar-se-ia à CPMF (imposto dos ricos), se possível com alíquota maior, talvez 0,5%, e se daria o mesmo desconto no Imposto de Renda (que deveria afetar os ricos, mas não o faz). Seriam retiradas as possibilidades de deduções do IR. Com o aumento de arrecadação obtido com o fim das deduções, novamente se daria desconto para todos os que pagam IR.

IX – Voltar-se-ia a cobrar IR dos ESPECULADORES estrangeiros que compram títulos do governo e NÃO PAGAM IR. Esta foi uma das piores (senão a pior) decisões do governo Lula. É evidente, por ser terrível, foi diligentemente aplaudida por todos os grandes jornais. Quem tomou a decisão de não cobrar IR dos especuladores (¡tadinho deles!) foi o Ministro Palocci – um ministro de direita, como é sabido.

X – Para se jogar futebol na seleção brasileira, os jogadores deveriam permanecer jogando cá por estas plagas.
Ora, a seleção de um país se compõe de pessoas que representam toda a população. E quem se sente representado pelos nababos que ganham milhões, se rodeiam de loiras e puxa-sacos, se perdem com tanto dinheiro, distanciam-se totalmente do nosso povo e da nossa gente, vivendo uma vida totalmente diferente da nossa situação, cheia de luxos desnecessários, frivolidades e eventualmente um ou outro travesti mostrando a verdadeira faceta dos “donos da bola”, quem pode se sentir representado por estes?

Os jogadores deveriam permanecer no Brasil, para saber como estamos. Em ficando aqui, mais pessoas do nosso próprio país se interessariam por futebol (já que o nível do jogo melhoraria), mais pessoas de outros países se interessariam pelo futebol de clubes que é praticado aqui (aumentando a fonte de renda dos clubes com a transmissão a vários países, por exemplo) e, por fim, a própria seleção melhoraria seu futebol, afinal, os jogadores tenderiam a eventualmente se esbarrar, eventualmente jogar no mesmo time, melhorando o tal entrosamento que tanto serve de justificativa para o desempenho nem tão brilhante da seleção. E não como é hoje, uns vivem no Brasil (reservas, é claro), uns na Itália, outros na Espanha, outros na Inglaterra, etc.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quem me dera

No dia que antecede uma viagem de ônibus noturna, costumo intencionalmente dormir mal, com vistas a chegar cansado para a viagem e adormecer mais facilmente. O problema é que nem sempre dá certo, às vezes fico extremamente cansado e não consigo apagar.
Tenho severas dificuldades com o sono, desde que era criança. O único período da vida em que não tive insônia foi numa época lôbrega em que dormia cerca de 5 horas por dia. Neste período tive insônia poucas vezes.
Mas não era disto que eu queria falar.

Depois de dormir mal, poucas horas, mal acomodado, sem ninguém ao lado (o que, convenhamos, num ônibus é até melhor), estou na rodoviária de Macaé, este recanto maravilhoso do planeta Terra.
Com sono, dor de cabeça e mal-humorado, procuro um banco onde ninguém durma – uma das muitas proezas do petróleo é a desigualdade social, Nigéria, Venezuela e outros países do Oriente Médio estão aí de prova – e, se possível, onde não haja nenhum fumante.
Mas não era das proezas de Macaé ou do petróleo que eu queria falar.

Sensabor como estava, abri a bolsa e fui ler, o que normalmente não gosto de fazer quando estou neste estado decrépito.
Eu estava com um Saramago na bolsa, “As pequenas memórias”.
Acredito que o momento em que estamos mais aptos para ouvirmos música seja na adolescência, onde se consolidam muitas coisas na vida (os nossos melhores amigos, por exemplo) e, creio que seja ali que escolhemos as bandas que serão as nossas favoritas para o resto de nossos dias.
Mesmo que nosso gosto musical venha a mudar, nunca gostaremos tanto quanto gostamos das músicas que ouvimos de quando éramos os nem tão inocentes adolescentes.
Mas não era disto que eu queria falar.

Com relação à literatura, já não tenho tal convicção. A leitura é algo mais complexo, e, não creio que haja alguma cronologia lógica em que estejamos mais ou menos acessíveis para o sabor dos livros.
Há, sim, momentos em nossas vidas em que estamos mais ou menos aptos, mas isto por problemas nossos, e não por estar em determinada fase da vida, como na adolescência.
Mas não era disto que eu queria falar.

Eu queria falar que, não estando em fase da vida mais ou menos apta a literatura, posso afirmar com isenção: quem me dera algum dia ter a visão, a inteligência e a sabedoria de uma pessoa como José de Souza Saramago.
Feliz é o mundo que possui uma pessoa como esta.

Nem tão bom para o mundo é o fato de pessoas como Saramago (ou G.G Márquez, por exemplo) estarem já se despedindo, dado o avançar da idade.
Não faz (tanto) mal. O que escreveram é eterno.
E, se Deus quiser, ainda nos encontraremos em outra dimensão, a despeito da (des)crença do mestre português.
A sua generosidade é tanta, que tenho certeza que o Pai Celestial os receberá de braços abertos. Até porque, o céu ficaria menos bonito sem o seu altruísmo, sua inteligência e a sua lucidez.

Aforismo XL

Acho realmente uma boiolice este negócio de “tenho que ir fazer o número dois”. Pois eu, digo aos quatro ventos: ¡Eu vou é cagar!



P.S: A boiolice nada tem a ver com o homossexualismo.

Aforismo XXXIX

UM DOS muitos problemas de ser chefe, é que você tem um poder muito maior para prejudicar do que para beneficiar seus subordinados.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Assassino em massa

Às vezes observo as discussões acerca da utilização de células tronco, e suas implicações sobre sua utilização, tendo em vista que os cientistas argumentam que não o fazem com seres vivos (mesmo não havendo consenso quanto ao momento exato do início da vida, grande parte dos cientistas acredita que o marco inicial da vida ocorre depois dos primeiros 14 dias de nascimento, pois é quando começa a formação do nosso sistema nervoso. Chegou-se a esta conclusão pelo sentido inverso, pois uma pessoa só é considerada morta quando o seu cérebro pára de funcionar).
Já outras pessoas acreditam que o início da vida, seja de quando da concepção, no momento da entrada do espermatozóide no óvulo.
Porém, às vezes vejo algumas partes deste debate, inflamados pelo radicalismo religioso, defenderem agressivamente que o início da vida é tão próximo do fim do ato sexual, mas tão próximo, que reflito que falta pouco para estes me chamarem de assassino por bater e ter batido minhas punhetas.

Pra evitar chororô

Dada a infinita misericórdia divina, pode-se inferir que o Senhor criará paraísos conforme cada povo julga que ele o é. Criará o Paraíso com as virgens para os muçulmanos, o nosso Paraíso, os Elíseos dos gregos, o Nirvana dos budistas, a Iluminação dos espíritas, o Valhalla dos vikings, etc., para que todos pensem que estavam certos e os outros, errados – a glória para muitos dos religiosos fervorosos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Dele nascido, para ele direcionado

Vento sul assola o Espírito Santo, garoa, pego um ônibus para o terminal Dom Bosco. No terminal sento ao lado de uma mãe e um filho – este com cerca de seis anos. A criança brinca com a mãe, interage com o ambiente, mesmo sentada no banco. A mãe, inversamente proporcional a alegria e aos gestos até mesmo bastante contidos do garoto, o esmurra, o agride e grita com ele o tempo todo, como se o mesmo estivesse fazendo muita bagunça.
Estávamos sentados no mesmo banco, e aquela cena me incomodava muito. O ônibus demorava bastante, e a mãe continuava a esmurrar o garoto. Para meu espanto, a criança não chorava, tampouco se deprimia com os gestos desatinados da mãe. Ao contrário. O garoto continuava com uma alegria incontida, se divertindo, chamando a mãe para brincar, como se ela realmente não estivesse fazendo nada. Fiquei pensando, naquela cena, nos longos minutos que escorriam. Pensei, que em algum momento, mesmo àquela imensa alegria, àquele imenso prazer em brincar, iria se esmorecer. E, em algum momento, àquela criança, já cansada de apanhar, iria – mesmo sem saber – querer vingança. Não seria contra a mãe. Seria contra a sociedade como um todo. Sociedade que não deu a ela direitos, só deveres, que não deu amor, que não deu carinho, que não deu compreensão. Ao contrário. Só punição e rancor.
E eu pensei, que àquele garoto, com toda aquela alegria, que só queria brincar, quando grande, ainda viraria um pária. Viraria um bandido qualquer, um assaltante qualquer, um assassino qualquer. E, por conseguinte, vão querer a cabeça dele. Vão querer prisão perpétua. Vão querer pena de morte. E eu pensei, que ele era apenas um dado rolando no meio do destino, com muito menos poder de interferência na própria vida do que parece, pois, àqueles murros que lhe eram dados em tão pequena idade, vão marcar pra sempre, estarão no subconsciente daquele garoto, não haverá nada que os tire de lá.
Que destino, pensei. É a cadeia, é a morte, e havia tanta alegria, obstinada alegria.
Estava sinceramente magoado com a mãe, muito, mesmo, e tentava não olhar para a cena que ocorria ao meu lado. De qualquer forma, seus berros ensandecidos perscrutavam a todo o momento os mais recônditos cantos dos meus ouvidos e sair dali seria deliberadamente fugir – coisa que não me apetece em todos os casos, comumente só em um ou outro relacionamento.
Tentei olhar para ela sério, para tentar desanimá-la do que fazia. Foi quando encarei de verdade seu rosto. É engraçado, a gente vai passando pelas pessoas, tantas pessoas, e na verdade não vê nenhuma. Foi quando me dei conta de que a mãe era muito nova. Devia ter uns 20, 21 anos. E eu, que tentava aplacar minha raiva contra ela, me dei conta de que ela deve ter sido mãe com uns 14 ou 15 anos. E pensei como deveria ter sido o pai dela, se é que ela o conheceu. E, percebi como era fácil sentir misericórdia do garotinho que pode virar bandido, já que ele é tão pequeno e indefeso, mas é difícil sentir daquela que, se talvez não se tornou meliante, também não conseguiu montar uma família, não conseguiu prover o seu filho dos cuidados e do amor que ele merecia. Não passava amor para frente, talvez porque também não o houvesse recebido. Era bastante fácil culpá-la, como será bastante fácil culpar o futuro bandido, ou futuro bêbado ou futuro pai irresponsável que está sendo criado ali.

E eu, pensei sobre ter filhos, esta coisa louca, tanta responsabilidade, tantos traumas e coisas mal resolvidas em nós que passamos adiante, para eles, que sequer tem forças para suportar tal peso.
Como não pretendo ter filhos, me aliviei com a sensação de que não passaria minhas coisas ruins adiante. Morrerão comigo.

O ônibus demorou tanto, que percebi que era inútil tentar ir a aula de inglês que almejava, perderia mais da metade da aula, mudei de fila para pegar o ônibus de volta. Eram tantas as filas e tão longas, que entrei na grande serpente errada. Nesta, observei um rapaz em fila próxima, de cabelo raspado, tinha um corte formato de desenho em parte do cabelo mais ou menos deste jeito: l/l/l/l/l/, que circundava todo o seu crânio. E ele, de repente, se virou para trás, e ofereceu alguns pacotes de amendoim para os que estavam atrás dele. Normalmente um real compra alguns pacotes, ele pegou um pra ele e oferecia os outros para estranhos.
E, ali, naquela garoa fria e naquele vento forte, no meio de uma fila enorme, no meio de tantos traumas e alegrias, no meio do egoísmo e da dor, também havia altruísmo, sem nenhum compromisso, apenas o de proporcionar a alegria a um desconhecido. Ali, naquele momento, no meio da rua, no meio do povo, eu me senti em casa. Ali, naquele lugar, eu estava onde deveria estar.
Quando consegui ingressar no ônibus de volta, ao meu lado um rapaz lia um livro: “O maior vendedor do mundo”. Era um livro que eu, que tanto gosto de ler, jamais gostaria de ler. Mas ele lia, com o ônibus em movimento, não sei o que queria vender, talvez a si próprio num emprego qualquer. Estava correndo atrás, se preparando para não sei o que. Achei forte, também.
Entram duas mulheres, uma mais velha e outra nova. Dentre outros assuntos, a mais velha agradece a bondade divina pelo fato do ônibus ter parado fora do ponto para pegá-las – sem pensar em responsabilizar Deus por não terem um carro, ou por estar chovendo no momento em que estavam fora de casa. Eu logo pensei que o motorista parara por causa da chuva, e não dos desígnios celestiais. Mas ela seguiu com seu raciocínio, falou sobre o coração do motorista, em contraponto a outros, que tinham tal órgão petrificado.
E eu pensei novamente no garoto, futura estátua, de quem cobrarão coisas como se ele tivesse tido tudo, como se ele fosse um igual, quando não é, como se ele tivesse tido chances, quando não teve, como se ele fosse um culpado, quando na verdade é vítima desde já.


E, me dei conta mais uma vez, diante do garoto sem futuro, da jovem mãe, das senhoras que agradecem ao Pai Celestial por um ônibus que parou fora do ponto, pelo rapaz que tentava agradar os outros com amendoim, do rapaz que tentava ser um bom vendedor, que é para eles, e tão somente para eles, que nossas maiores ações, que nossos maiores esforços devem ser empreendidos. É por causa dessa gente, por essa tão brava gente, tão espoliada, tão sofrida, e que ainda assim consegue ser altruísta e alegre, que sou socialista. Vivo com certo conforto, não carecia pensar nisto. Mas não posso esquecer deles, do povo, esta palavra tão mal usada, dita tantas vezes com escárnio justamente por aqueles que se locupletam dele, por aqueles que sentem desprezo em estar junto a eles, que se supõem diferentes, distantes, dignos de outro país, outro ambiente, outra temperatura, até.
É por causa deste povo, sofrido e amuado, por amá-los, que, a cada dia mais convictamente, me sinto socialista. É trabalhando e ajudando este povo, que se faz a obra de Deus, é nosso dever, é nossa obrigação. Sinceramente, sendo o homem que me tornei, nem sinto opção em não ser socialista. Assim como apenas nasci homem, apenas nasci brasileiro, apenas nasci socialista. Apenas sou.
Eu não sei se minha ideologia está correta, e postulo a necessidade de se debater as antinomias da mesma. Porém, em qualquer decisão que seja tomada, de qualquer regime, de qualquer governo, ou até mesmo nas nossas decisões habituais, quando temos poder para interferir nas coisas, devemos pensar muito, muito refletidamente, no bem destes desvalidos. Porque eles precisam. E, nem mesmo eles, têm consciência do tanto que são explorados.
Para mim, pra ser sincero, é até bem fácil, pois no meio deles, sinto que estou dentre os meus.


P.S: Lá fora, debatem ajuda de mais de três trilhões de dólares (!) aos especuladores (¡coitadinhos!).
Para os que inspiraram este texto, não restam nem as migalhas.

Aforismo XXXVIII

¿Por que ver toda mudança como uma ameaça?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aforismo XXXVII

Um dos meios para reconhecermos quando envelhecemos, é a partir do momento em que passamos a procurar uma aliança nas mãos das belas desconhecidas que encontramos nos acasos da vida.