terça-feira, 26 de abril de 2011

Um pedido

Se num futuro muito distante, por qualquer motivação eu pleitear o ingresso na Academia Brasileira de Letras, por favor, dêem-me um tiro na cabeça.

P.S: Pode ser pelas costas. Terei feito por onde.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O desperdício dos pobres

Todo, absolutamente todo dinheiro gasto com proteção, com defesa, ou seja, o dinheiro gasto com polícias e suas forças especiais, forças armadas, serviços secretos, etc., tudo isto é o mais puro, o mais absoluto desperdício. Desperdício de vida (armas são feitas para serem utilizadas), desperdício de esforço, de tempo, de inteligência, de mão-de-obra, de tudo.
Ao contrário do que alguns pensam – especialmente no que tange a tecnologia – a humanidade seria muito mais evoluída, todos nós teríamos avançado muito mais, se tivéssemos empregado nossos recursos em amparar os desvalidos, em construir, em dinamizar a economia, em empreender, em nos ajudar de maneira mais inteligente do que desperdiçá-los para destruir e/ou matar os outros.
Rememoro o personagem O cobrador, de Rubem Fonseca:

Todos eles estão me devendo muito.
Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo.
Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol, (...) xarope, meia, cinema, filé mignon.

Eu também concordo que estão nos devendo muito. Estão nos devendo respeito, solidariedade, companheirismo, trabalho digno, carinho, equidade, justiça, educação, exemplo, coerência, paz, e muitas outras coisas. Nem digo que estão nos devendo amor, porque seria esperar demasiado. Somente respeito já bastaria. Porém, especialmente isto nos devem.
E nós, pobres de tudo isto e de tanta coisa mais, vamos desperdiçando nossos limitados recursos com àquilo que só pode atingir exatamente o contrário do aqui descrito: com a destruição.
Sempre que observo um formigueiro, penso em quão estúpidos nós seres humanos estamos sendo, pois, com toda nossa capacidade, não conseguimos adquirir a capacidade contributiva para a nossa sociedade que um inseto consegue pra sua.
A justificativa para todo este gasto militar, claro, é que é para nos defender. Sartre dizia que a violência sempre se faz passar como uma resposta à violência alheia.
Nossa sociedade é condicionada para a violência porque somos focados no ter, no comprar, no consumir. Outro não é o motivo de vivermos tolhidos em nossa liberdade, com medo de sairmos em tal horário, medo de passarmos em tal lugar, medo, medo e medo – a despeito de tanto e tanto gasto.
Para que fique claro em que nível de imbecilidade nós estamos, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla inglesa), nos informa que somente no ano passado (sem contar as polícias e serviços secretos), as forças armadas do paupérrimo continente que é a África desperdiçaram 30 bilhões de dólares, as da Oceania 5,7 bilhões de dólares, as da América Latina (que foi a que teve o maior aumento real de gasto, de 5,8%) 63,3 bilhões de dólares, as da Ásia 317 bilhões de dólares, as da Europa 382 bilhões de dólares, as da América do Norte 721 bilhões de dólares.
No total, a humanidade desperdiçou um trilhão e seiscentos bilhões de dólares. Isto somente em um ano. Isto de um gasto que tem apresentado crescimento real nos últimos anos.
Pra que?
Pra nada.
E por quererem tudo.
¿É ou não é uma lástima?

Bullying

Agora é moda falar do tal do bullying – esta palavra bizarra que eu tive de procurar no Google pra saber como se escreve. Mas a verdade é que quase toda piada é um bullying. Quiçá sobre loiras, carecas, gordos, dentuços, homens, mulheres, viados, argentinos, cearenses, gaúchos, cariocas, de torcedores dos mais diversos times, etc.
Claro que não defendo a prática do assédio, que é nefasta quando feita de maneira sistemática – e pode, sim, se feito desta maneira acarretar consequências graves. Porém, o que ocorre é que, do jeito que estão falando do tal bullying, todo mundo já o sofreu, pois todo mundo já foi provocado e todo mundo provocou também – normalmente, aqueles que não implicam com os outros só não o fazem por não terem imaginação para tanto, e não por acharem equivocado.
E nem por terem implicado conosco saímos por aí cometendo insanidades atrozes.

E esta história do bullying é apenas um dos exemplos da babaquice que esta grassando em outras áreas da sociedade. Um exemplo clássico: quem lida com educação infantil sabe que hoje uma professora é orientada a não corrigir os erros dos alunos com caneta vermelha, porque isto pode gerar problemas psicológicos nas crianças (!). Tenho certeza que uma pessoa que tivesse sido corrigida a vida inteira apenas com caneta vermelha, ainda assim, não teria a capacidade mental abalada o suficiente para ter uma ideia estapafúrdia dessas. Quem inventou isto possui problemas mentais decorrentes de outra origem, sabe-se lá qual.

Bem, detesto os e-mails moralistas que circulam pela net pregando que hoje tudo é mole e antigamente é que era correto. Não era, em diversas áreas a condição humana progrediu muito. O próprio caso dos professores é lapidar de que este discurso moralista é vazio: mais cedo ou mais tarde, todo mundo encontra um que é um carrasco, tentando descontar suas próprias frustrações nos alunos. O mesmo ocorrendo com os chefes. Porém, de fato, sob alguns aspectos estamos no terreno movediço da viadagem. Não da viadagem correlativa ao homossexualismo – cada um que tem a sua orientação sexual, e pode – e deve – tentar satisfazê-la, até pra se aliviar deste mundo doido que a gente vive. O que está sobrando no mundo, na verdade, é a viadagem da frescura, e o que vem faltando, por conseguinte, é paudurescência.
Esta dito.

Aforismo XCIV

Eu queria ser só amor, mas a verdade é que odiar também é necessário. Porque há muita coisa e muita gente que não presta. Não necessariamente nesta ordem.

terça-feira, 12 de abril de 2011

No cravo e na ferradura

Certa vez estou eu numa pizzaria com um grupo de amigos com uma amiga de um desses, que eu não conhecia. Lá pelas tantas ela diz que não sabe cozinhar nada. Respondo de pronto, feito um personagem de Jorge amado:
- Uma mulher tem duas utilidades. Se ela não sabe cozinhar, vai ter que compensar muito na outra.
Bem, era só uma provocação, claro, mas a casa caiu do mesmo modo.

***

Entra Wesley na sala, e depois de algumas provocações quanto a sua sexualidade, ele responde:
- Se Deus inventou algo melhor do que a mulher, ele escondeu consigo.
Evidentemente não dá pra discordar de sua assertiva. Mesmo que seja para atender somente as tais duas utilidades.

Faltou combinar

Rememoro-me de um dos famosos (não sei se verdadeiro) chistes com Garrincha. Antes de um jogo de copa do mundo contra a Rússia, o técnico brasileiro Vicente Feola explicava:
- Garrincha, é o seguinte. Você pega a bola pelo canto, entra na área, dribla o zagueiro e toca pro Vavá fazer o gol.
No que garrincha respondeu:
- Tudo bem, mas você já combinou isto com os russos?
Todas as vezes que observo o estádio “Engenhão” vazio, a despeito dos clássicos que ali ocorrem, penso que os doutos que planejaram construir ali aquela extremamente onerosa obra (tanto na licitação, quanto nos seus famosos “aditamentos”), reflito que faltou combinar com os cariocas.

P.S: O único acerto de planejamento foi o Botafogo ter arrendado aquele estádio. Como este time já não tem torcida (e a que possui é proporcionalmente velha), um estádio grande já ficaria as moscas de qualquer modo, então, melhor mesmo que seja ao menos destinado a este time perdedor. Ao menos os botafoguenses passam a ter um álibi (mesmo que falso) do estádio continuamente vazio.

Mau exemplo e maldades outras

Uma das coisas que me deixou assustado com a tragédia do assassinato das crianças na escola do Rio de Janeiro, é a possibilidade de este evento voltar a se repetir, por causa da ideia que ele transmitiu, do grande estardalhaço que causou.
Relembro-me que, quando o primeiro suicida pulou da terceira ponte, em Vitória, outros vários vieram em seguida – e alguns mais chegaram a se pendurar na ponte e desistiram. Agora mornou. Mas, com certeza, o primeiro acabou empolgando os subsequentes.
Gente doida há demais no mundo. Espero que nenhum se impressione com a fama adquirida pelo facínora e tente extravasar seus sentimentos atrozes para atingir algo similar.

***

Duas maldades cômicas ocorreram de quando destes suicídios e quase suicídios na 3ª ponte. Quando alguém fica dependurado na ponte, o trânsito, obviamente, é interrompido, o que calha por gerar um congestionamento imenso. Pra grande parte das muitas pessoas que já estão no meio da ponte, dentro dos coletivos, já não convém voltar mais: atravessam seus quilômetros de extensão a pé, na pista contrária de onde o cidadão ameaça se jogar. Em um dos casos, o quase-suicida refletia mais demoradamente sobre seu futuro, porém, as indignadas pessoas que passavam do outro lado da pista conseguiam lhe dirigir palavras, ¿e quais eram? Se mata, seu merda, Agora se joga, Pula, seu FDP; e afins. O cara acabou não se empolgando com o “incentivo”, de qualquer modo.
Outro caso, quando o suicida de fato atingiu seu objetivo, um desenhista tascou no jornal no dia seguinte um diálogo (mais ou menos com estas palavras), em que uma pessoa perguntava a outra:
- Ele pulou mesmo da ponte? Por que será que ele fez esta loucura? – No que o outro respondeu:
- Será que ele não tinha dinheiro para pagar o pedágio?
No dia seguinte, sabiamente o chargista pediu desculpas à família e amigos do suicida.

***

E pensando nisto, uma coisa leva à outra, penso que é muito rara a piada que não tenha um quê de maldade. A verdade, em si, pouco importa numa pilhéria, mas a malícia é fundamental, o que não é nada demais: as pessoas não são inocentes (em vários sentidos), o mundo não é inocente, ¿por que as piadas seriam?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Castelos e Satiagrahas desmoronam (¿Democracia pra quem?)

Todas as vezes que um répobro de um juiz deseja atentar contra a sociedade inocentando um criminoso rico, ele fatalmente dirá defender com sua decisão o “estado democrático de direito”.
De maneira menos corriqueira, também ouviremos disparates acerca de “garantias individuais” e “estado policial”.
Bem, como é óbvio, não passam de desculpas para tentar legitimar suas decisões horríveis, injustificáveis sob qualquer ótica – exceto, talvez, a do próprio bolso.
Costumam sobrar ainda críticas ásperas, não pela inatividade – o que pode e deve ser criticado, pois ainda há muito o que progredir neste aspecto –, mas pela atuação do ministério público e da polícia federal. O único erro na atuação destes órgãos, na verdade, é investigar os inimputáveis, os corruptores, os donos do poder.

Bastante cuidado com estas três expressões, portanto. Elas não costumam estar na boca de boa gente.
Muito ao contrário.

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No Brasil, caso clássico, a mesma pessoa que despende loas e mais loas a velha puta chamada democracia, defende arduamente a autonomia do Banco Central. E aí eu pergunto: ¿quem elegeria os diretores do BC quando tal autonomia lhes fosse concedida? ¿Quem controlaria a política econômica do país? ¿Quando algo desse errado, como conseguiríamos substituí-los de lá, já que não teríamos direito a voto para derrubá-los?
Poderia explanar em longas palavras a profunda antinomia de se defender as duas coisas simultaneamente, mas não é necessário: contra a safadeza não há palavras que bastem.

***

Cito, para lembrar o grande mestre Saramago, algumas tratativas suas sobre governos e democracia.

“O grande mal que pode acontecer às democracias — e penso que todas elas sofrem em maior ou menor grau dessa doença — é viverem da aparência. Isto é, desde que funcionem os partidos, a liberdade de expressão, no seu sentido mais directo e imediato, o Governo, os tribunais, a chefia do Estado, desde que tudo isto pareça funcionar harmonicamente, e haja eleições e toda a gente vote, as pessoas preocupam-se pouco com procedimentos gravemente antidemocráticos”.

“O que temos chamado de ‘poder político’ converteu-se em mero ‘comissário político’ do poder económico.”

“Quando dizemos que é um resultado importante o viver em democracia, dizemos também que é um resultado mínimo, porque a partir daí começa a crescer o que verdadeiramente falta, que é a capacidade de intervenção do cidadão em todas as circunstâncias da vida pública. Ou seja, fazer de cada cidadão um político. A liberdade de imprensa, a liberdade de organização política é o mínimo que podemos ter, porque a partir daí começa a riqueza espiritual e cívica do cidadão autêntico.”

“O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.”

“Tenho uma visão bastante céptica do que chamamos de democracia. Na verdade, vivemos sob uma plutocracia, sob o governo dos ricos. Com o neoliberalismo económico, certas alavancas que o Estado detinha para agir em função da sociedade praticamente desapareceram. Não se discute hoje a democracia com seriedade. Foram impostos tantos limites à democracia que se impede o desenvolvimento de outras áreas da vida humana. Veja o exemplo do Fundo Monetário Internacional. Trata-se de um organismo que não foi eleito pela população, mas que controla boa parte da economia internacional.

“Na falsa democracia mundial, o cidadão está à deriva, sem a oportunidade de intervir politicamente e mudar o mundo. Actualmente, somos seres impotentes diante de instituições democráticas das quais não conseguimos nem chegar perto.”

“O cumprimento dos direitos humanos é incompatível com o que se está a passar no mundo. Então, se os reivindicas, terás de opôr-te ao que se está a passar. (...) Sem democracia não pode haver direitos humanos, mas sem direitos humanos também não haverá democracia. Estamos numa situação em que se fala muito de democracia e nada de direitos humanos. Creio que essas são as duas grandes batalhas para este século. E se não nos lançarmos nelas, o século será um desastre.”

“Quando digo que a democracia se suicida diariamente, perde espessura e se desgasta, diminuindo a sua densidade, estou a falar de um sentimento que nos afecta, a nós, cidadãos. Sentimos, e sofremos com isso, que não temos importância no modo como funciona a sociedade.”

“O pior que pode acontecer-nos é resignarmo-nos a não saber. Há que aprender a voltar a dizer não, e a perguntarmo-nos porquê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas para estas perguntas, no melhor dos casos entenderíamos o mundo.”

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ciscos e traves

É claro que o Velho Testamento é escrito de maneira altamente metafórica – o que não perdoa, claro, alguns dos que o escreveram/participaram das histórias de serem condenados ao inferno, basta lê-lo para saber das atrocidades ali contidas.

Porém, levando em conta ao pé da letra o que está escrito (como quem escreveu gostaria que entendêssemos), alguns questionamentos insuflam-me a mente: ¿será que Deus, em sua infinita sabedoria, teve alguma dúvida de que Adão e Eva comeriam o fruto proibido?

E, um passo mais adiante: ¿caberia a nós, também cheios de falhas, atirar a primeira pedra no casal pecador?