terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Feliz Agora

Hoje em dia muito se fala sobre a terceira idade ou a melhor idade. Sinceramente não vejo por que ela seria a melhor idade. Pois é um momento em nossas vidas de descompasso entre os desejos da alma (que necessariamente não envelhece), e as possibilidades de um corpo alquebrado pelo tempo. Devem existir algumas vantagens. Mas tirando os passes especiais nos meios de transporte, e a preferência nas filas de bancos, só me ocorrem duas. Uma delas ouvi da minha madrinha. Que afirma que os idosos tem a vantagem de poder falar o que quiserem. Por dois motivos: primeiro que ninguém os ouve mesmo, e segundo que mesmo ouvindo não se importam. Pois os comentários mais ácidos são tidos como sandices. A segunda vantagem descobri nas academias de ginástica, depois que fiz 40 anos. O que não chega a ser uma idade avançada, mas funciona como um alerta, pois de repente você percebe que metade da sua expectativa de vida já passou. Mas voltemos à academia. Me digam uma coisa, alguém gosta de abdominal? Existe exercício mais sacrificado e chato? Eu desconheço. Pois bem, depois dos 40 ninguém te força a fazer mais nenhum exercício. Inclusive abdominais. Os professores ficam apavorados achando que vamos ter um ataque cardíaco e fazem vista grossa.
Mas deixando de lado a filosofia de botequim. Sabe, sou uma pessoa que acredita piamente na evolução do espírito. Que estamos aqui para aprender uns com os outros. Aprender a nos conhecer melhor, a eliminar nossos defeitos e a exercitar nossas qualidades. E que para isso precisamos tomar consciência do que nos serve, do que nos faz felizes. E do que nos atrasa, faz sofrer, humilha, puxa pra baixo e destrói nossos sonhos. Para que não precisemos repetir, no fim da vida, o desabafo do grande Jorge Luis Borges, que disse:

“cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer. Não fui feliz”.

E por isso é preocupante ver as pessoas enaltecendo a “melhor idade”. Como uma época de nossas vidas onde teríamos tempo, dinheiro e menos responsabilidades. Sendo assim o momento ideal para viver. Como se a vida nos espera-se. Como se pudéssemos dizer ao tempo: “detêm-te, pois no momento minha agenda esta lotada”. Como se o dia-a-dia não fosse importante. Como se fosse natural viver sem prestar atenção no caminho até o trabalho, nos almoços de domingo, no abraço da pessoa amada, no primeiro balbuciar de um filho dizendo “Te amo”, pois teríamos um momento mais propício para aproveitar tudo isso. Só que o presente, essa entidade mágica onde se encontram passado e futuro, é a única coisa que temos. E precisa ser vivido intensamente, senão traz sérios riscos colaterais. Ou no dizer de Vergílio Ferreira:


“Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.”


Portanto meus amigos “carpe diem”. Deliciem-se com cada momento de suas vidas que de banal não tem nada, pois é único. Pensem nos conselhos de Don Herold, em Instantes:

“Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais
sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas
reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.”

E sejam felizes agora.

Nenhum comentário: