Relembro-me que depois de muito tempo sem maiores inovações, o primeiro filme de heróis que veio a chamar atenção do público foi X-men – o filme, já no longínquo ano 2000.
Dessa película, só gostei dos minutos iniciais (depois vim a reconhecer que o diretor Bryan Singer, é ótimo para algumas cenas específicas – a do Noturno na Casa Branca em X-men 2, a do Mercúrio correndo e desviando as balas enquanto o mundo avança lentamente em X-men: dias de um futuro esquecido –, mas não mantém esta qualidade ao longo do filme). Como um todo, achei o filme muito aquém do que poderia ser e, sendo admirador da série, fiquei na época bastante decepcionado.
De qualquer forma, foi um sucesso de público, e os estúdios de cinema, vendo o filão aberto, se esmeraram em produzir caudalosamente tantos filmes de heróis dali em diante que nem o mais fanático fã deste tipo de história poderia imaginar o volume com que esses filmes se alastrariam.
Desta leva podemos destacar a impressionante trilogia Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan (que ensinou a nós todos – mas alguns diretores ainda não conseguiram captar – que um bom filme de herói começa por um vilão impressionante), Os Vingadores, X-men – primeira classe, Homem de aço, dentre outros.
Porém, a ânsia financeira em lucrar com filmes de super-heróis foi tamanha que perderam-se todas as travas e pudores. Sobreveio então um cenário que nem o mais execrável dos vilões poderia imaginar: o desastre absoluto de Mulher-Gato (não vi e não gostei); o sonífero Capitão América – o primeiro vingador; Transformers e seus belíssimos efeitos especiais agregados a roteiros que não serviriam para limpar as nádegas; Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado que, como disse Peter Travers, é “ruim o suficiente naquele sentido que te faz desistir da vida”, o ensurdecedor G.I. Joe 2 – retaliação (sem querer-querendo acabei assistindo este filme no cinema – mais parecia que alguém segurou uma metralhadora disparando no início do filme e assim seguiu por toda a “história”), o Lanterna Verde e seu vilão com a testa enorme... Este é melhor eu inserir a imagem, pois desacredito que exista – mesmo em todos os 3.600 setores espaciais que os guardiões do universo dividiram o cosmos para que os Lanternas Verdes o protejam – algum ser com imaginação notável o bastante para poder bolar um personagem tão grotesco.
Nem com um anel do Lanterna Verde alguém seria capaz de imaginar e criar algo tão esdrúxulo – e criaram.
Afora outros que não foram completamente horríveis, mas também machucaram as vistas, como Thor 2 – O mundo sombrio, ou O Homem de Ferro 2 e 3.
Os filmes de heróis como um todo trazem algumas características, quais sejam: são bastante onerosos (o que inibe e asfixia produções menores), efeitos especiais prodigiosos (o que também prejudica filmes mais focados na história – como ocorreu com a boa película Robocop, dirigida pelo brasileiro José Padilha) e, como um todo, possuem roteiros inferiores – justamente por se focarem demasiadamente nos efeitos especiais, acredito. Não precisava ser excludente, claro, mas acaba sendo, por razões que a própria razão desconhece.
Hoje raramente surge um belo filme focado na história, como o fenomenal Crash – no limite (ganhador do Oscar de melhor filme em 2004), o cômico O Grande Lebowski (1998), os intensos O Sexto Sentido (1999), Foi Apenas um Sonho (2008) e Closer – perto demais (2004), os questionadores Ela (2013) e Beleza Americana (1999), os formidáveis A família Savage (2007) e Magnólia (1999), etc.
Mesmo espocando aqui e ali, filmes como esses são raros e, na medida em que demandam menor complexidade em suas criações, deveriam ser justamente os mais comuns. Não são, infelizmente.
Estes filmes, mais cerebrais e tocantes, parecem ter perdido a vez no cinema. Fica a impressão que eles são as “sobras”, a serem jogados no mercado entre os grandes lançamentos – estes grandes, claro, todos de ação, com destaque especial para os de heróis.
Mesmo apreciando bastante o universo fabuloso dos quadrinhos, olhando para trás, creio que como um todo, a avalanche desses filmes mais atrapalhou do que ajudou o cinema.
Optaram pelo caminho mais espetacular, mais fantástico, mais fácil, porém, mais burro.
Calharam por viciar o público em efeitos especiais e inocularam resistências contra histórias mais inteligentes e interessantes.
Hoje parece que um filme ter só uma bela história já não basta – alguma coisa tem que explodir.
Diz o velho ditado que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Não tenho dúvida que, tentando lucrar tanto com os filmes fabulosos, estão matando o paciente.
Um comentário:
Muito bom o texto.
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