Não
fui alfabetizado na escola.
Aprendi
a ler e a escrever aos 3 anos de idade, de maneira autodidata, lendo cartazes, outdoors,
vendo propagandas na TV e afins. Depois de compreender as palavras, sozinho
mesmo, com um lápis na mão, fui reproduzindo-as (com uma letra terrível, que me
acompanha até hoje) sem que meus pais, professores nem ninguém me ensinasse.
Por
ter me alfabetizado em idade tão tenra, não tenho absolutamente nenhuma lembrança
em que eu já não soubesse ler e escrever. Só posso, na verdade, precisar a idade
com que me alfabetizei pelo que meus pais me contaram; pra mim mesmo, desde
sempre, sei ler e escrever.
Compartilho
essa história porque alguns livros de filosofia que li — e o último, a Dialética
Negativa de Theodor Adorno entra nesse time — me trouxeram uma peculiar
sensação, de não apenas me sentir limitado e burro, mas também de minimamente
compreender qual deve ser a desagradável sensação de se sentir um analfabeto, sensação
que, como descrito, não me lembro de ter sentido:
“Heidegger
deriva da logicidade da cópula a pureza ontológica que agrada à sua alergia
àquilo que é fático; do juízo de existência, contudo, ele retira a lembrança do
ôntico, que permite então hipostasiar o resultado categorial da síntese como um
dado.” (p. 93)
Ler
350 páginas desse caminhão sem freio é, de fato, dose pra cavalo — ou, mais bem
dizendo, dose pra burro, que é como nos sentimos ao lê-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário