quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

O Mar

A centímetros, polegadas, metros, pés, quilômetros, jardas, milhas, milhas náuticas de um ponto na terra qualquer, aqui estamos nós. Num ponto qualquer do mar.
O oceano é tão azul e de um azul tão profundo, que custa a acreditar. ¿Por que uma cor desta? ¿Esconde algo? Sempre me é claro, uma das filosofias mais básicas, daquelas mais arraigadas e sinceras, é um problema saber demais. Continua escondendo, então, mar, continua.
Engraçado, gostaria de saber o que ele leva, pra onde vai. Seguir o sabor das correntes. E, libertar-me de outras correntes.
¿Se eu jogasse uma garrafa pústula, aonde ela chegaria? ¿A quem nosso querido mar a entregaria? ¿Ou, o ingrato, devolveria nosso presente? Ou levaria para outros mares, outras ondas, outros destinos, outras fantasias...
Ou...
ou...
ou...
¿?
¿Deveria escrever algo na garrafa como o que? Suponho que há tempos deveria ser um poema, depois um endereço, hoje, continua sendo um endereço, ao menos. Eletrônico. Que também seja o msn, claro.
Não posso escrever nada. Não dá. Não consigo, não devo, não posso e não quero.
Ou, pra criar a exceção (seguindo a regra), eu escreveria se fosse um pedido de socorro.
¿Quando não precisamos de um?
Balança e não balança pouco. Quer me levar no seu ritmo, deixar-me estritamente com o seu sentido, sua direção, seu humor. ¿Quem não deseja fazê-lo? ¿Quem não queremos deixar no nosso ritmo?
Cada parte da superfície com seu movimento... uma balbúrdia e um descontrole. ¡Quanta precisão nisto!
Tão distante da terra e dos homens, dos seus afazeres, seus desesperos, suas metas, seus objetivos (se destruir), seus medos, suas vertigens, seus recalques, suas experiências, seus medos, suas diferenças, seus anseios, suas calamidades, suas exigências, suas velhas vanguardas, suas escrituras.
Distante da terra e distante do chão. ¿Quanto eu deveria mergulhar pra alcançar o que quero? Custa, mergulhar. Dói. (¿Até onde quero conhecer a mim?) Cada viagem, cada escrita, é uma pergunta e um mergulho em si mesmo. O fôlego que a gente toma, varia (¿Qual foi o de hoje?). Até onde a gente vai, não se sabe. Sabe-se só a extensão da profundidade. Depois de certo tempo mergulhando, a gente aprende. Vá, mas vá até certo ponto. Lateja, machuca. Você não quer ir. Você não precisa ir (¿ou não?). Corre-se o risco de não voltar o mesmo, voltar com seqüelas graves. E nem sempre é bom ser o mesmo e nem sempre é bom mudar.
Às vezes a gente pula de um lugar mais alto, por isso chegamos mais longe, digo, mais fundo. E pular é sempre uma temeridade E asas, asas eu nunca tive. Talvez seja melhor assim. Talvez.
As ondas seguem indo, num fluxo que não reconheço sendo o meu. E, pela milésima primeira vez, ¿qual fluxo reconheço sendo o meu? ¿O das pessoas? ¿Do serviço? ¿Dos estudos? ¿Da sociedade? Acho que o de algumas músicas. Olha, gente, ¡uma resposta! Finalmente. Algum dia teria de acontecer.


A noite vem chegando. Só vem pra tirar o azul. Pra mostrarmos quão sozinhos estamos. Pra evidenciar nossa pequenez desta imensidão. Pra clarificar nossa distância de tudo. Pra dar medo. Não precisa, mar, não precisa. Medo eu sempre tive. Sei que é importante tê-lo. Até certo ponto.

Eu voltarei aqui, mar e voltarei a ti. Agora não posso continuar. Preciso encontrar uma garrafa.


17/01/07 - P-43

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