Todo, absolutamente todo dinheiro gasto com proteção, com defesa, ou seja, o dinheiro gasto com polícias e suas forças especiais, forças armadas, serviços secretos, etc., tudo isto é o mais puro, o mais absoluto desperdício. Desperdício de vida (armas são feitas para serem utilizadas), desperdício de esforço, de tempo, de inteligência, de mão-de-obra, de tudo.
Ao contrário do que alguns pensam – especialmente no que tange a tecnologia – a humanidade seria muito mais evoluída, todos nós teríamos avançado muito mais, se tivéssemos empregado nossos recursos em amparar os desvalidos, em construir, em dinamizar a economia, em empreender, em nos ajudar de maneira mais inteligente do que desperdiçá-los para destruir e/ou matar os outros.
Rememoro o personagem O cobrador, de Rubem Fonseca:
Todos eles estão me devendo muito.
Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo.
Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol, (...) xarope, meia, cinema, filé mignon.
Eu também concordo que estão nos devendo muito. Estão nos devendo respeito, solidariedade, companheirismo, trabalho digno, carinho, equidade, justiça, educação, exemplo, coerência, paz, e muitas outras coisas. Nem digo que estão nos devendo amor, porque seria esperar demasiado. Somente respeito já bastaria. Porém, especialmente isto nos devem.
E nós, pobres de tudo isto e de tanta coisa mais, vamos desperdiçando nossos limitados recursos com àquilo que só pode atingir exatamente o contrário do aqui descrito: com a destruição.
Sempre que observo um formigueiro, penso em quão estúpidos nós seres humanos estamos sendo, pois, com toda nossa capacidade, não conseguimos adquirir a capacidade contributiva para a nossa sociedade que um inseto consegue pra sua.
A justificativa para todo este gasto militar, claro, é que é para nos defender. Sartre dizia que a violência sempre se faz passar como uma resposta à violência alheia.
Nossa sociedade é condicionada para a violência porque somos focados no ter, no comprar, no consumir. Outro não é o motivo de vivermos tolhidos em nossa liberdade, com medo de sairmos em tal horário, medo de passarmos em tal lugar, medo, medo e medo – a despeito de tanto e tanto gasto.
Para que fique claro em que nível de imbecilidade nós estamos, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla inglesa), nos informa que somente no ano passado (sem contar as polícias e serviços secretos), as forças armadas do paupérrimo continente que é a África desperdiçaram 30 bilhões de dólares, as da Oceania 5,7 bilhões de dólares, as da América Latina (que foi a que teve o maior aumento real de gasto, de 5,8%) 63,3 bilhões de dólares, as da Ásia 317 bilhões de dólares, as da Europa 382 bilhões de dólares, as da América do Norte 721 bilhões de dólares.
No total, a humanidade desperdiçou um trilhão e seiscentos bilhões de dólares. Isto somente em um ano. Isto de um gasto que tem apresentado crescimento real nos últimos anos.
Pra que?
Pra nada.
E por quererem tudo.
¿É ou não é uma lástima?
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